Perguntei a uma Estrela… - versão em prosa... -
O tempo desfila perante os meus olhos impotentes em o deter, que nada podem fazer a não ser contemplar esse tempo que aqui é infinito, pela ausência de sinais que tornem esse tempo real.
O tempo, da forma como o conhecemos, é um conceito humano, fora da humanidade esse tempo de nada vale, e a única forma de sentir esse tempo só se nota no meu corpo, nos sinais do seu envelhecimento.
Ironia das ironias, não vou ter mais tempo para envelhecer, porque o tempo, o meu, acabou…
Eu e ela, dois invólucros vazios, um estéril (a cápsula de onde sai…) o outro à beira da esterilidade (eu…) a contar o tempo que me falta para esse fim, que será ditado pelo fim do oxigénio do fato que me protege.
Estou numa zona vazia do espaço profundo, onde nada, nada há, somente uma gigantesca estrela que arde à minha frente, a minha única companhia…
Noutra ironia, esta bem cruel, foi essa companhia única a ter ditado o meu fim.
Bem me tinham avisado que se me aproximasse demasiado dela as suas radiações, ou outros mistérios cósmicos que só os homens da ciência sabem explicar, poderiam matar o meu veículo, e por consequência a mim.
Eu compreendi, e claro que disse que iria tomar todas as precauções, iria seguir todas as indicações de segurança, mas à medida que me fui aproximando dela, a sua cor vermelho-pálido agiu sobre mim como as sereias agem sobre alguns marinheiros, seduzindo-me e levando-me até ela, fazendo-me naufragar…
E foi assim que aqui cheguei…
E assim dei comigo a ter um monólogo com a estrela, para passar mais depressa o meu tempo, e porque me deu para o existencialismo, tendo mesmo que querer falar com ela…
Perguntei-lhe para onde ia, e que a queria acompanhar, percebendo logo de imediato, que tal como ela, por muito que andasse naquele espaço, nunca sairia do mesmo lugar…
Arrependido de tamanho disparate, lembrei-me de querer saber a razão por detrás do brilho dela, as forças desse brilho, as suas motivações, porque existiam no cosmos milhões de outras estrelas, sendo que ela era apenas mais uma, o que levava a que nada nem ninguém acabavam por realmente nela não repararem…
E mais uma pergunta parva…estava na senda das perguntas absurdas que só desculpava por serem as últimas que iria colocar…
Mas como estava imparável e ela não havia forma de me dar resposta, inquiri a razão, os motivos para ela continuar a brilhar, a viver, dado ninguém olhar para ela com olhos de ver…
Fascinava-me a sua motivação para brilhar feliz, para toda a Eternidade…
E para meu grande espanto ela respondeu, apareceu uma resposta na minha mente, que poderia muito bem ser uma fantasia minha, um delírio, mas como estava mesmo no fim de tudo, quis mergulhar esse fim na suprema ilusão que uma estrela tinha falado comigo…
E a sua resposta…
A sua resposta foi que se não brilhasse, Tudo perderia sentido, porque se não brilhasse, parada, jamais trilharia o seu próprio caminho…
Compreendi então Tudo…
E nos instantes finais da minha vida senti-me também Uma Estrela…