NOITE INTERMINÁVEL

Amanheceu. Tudo estava claro e claro também estava o meu pensamento agora.

Foi uma noite interminável de pesadelo real demais para ser suportado.

Tudo começou com o som de leves batidas na porta da sala, no meio de uma noite terrivelmente escura pela falta de energia elétrica em toda a pequena e, aparentemente, pacata cidade.

Meio assustada acendi uma vela e fui atender.

- Quem é? - Perguntei.

- A vizinha nova do primeiro andar! - Respondeu uma voz feminina bastante rouca, talvez um resfriado, pensei.

Não sabia que já tinha mudado alguém para o apartamento do primeiro andar. Com certeza a mudança chegou durante o dia, enquanto eu estava no trabalho.

Mais tranquila, girei a chave na fechadura. A manobra produziu um som assombroso no silêncio da noite. Cautelosamente abri a porta. Não consegui completar o movimento normalmente, pois uma grande e forte mão empurrou a porta de uma só vez. Desequilibrei-me e quase derrubei a vela da minha mão.

Expressei todo o meu medo diante da figura assustadora: um homem vestido de preto, de mais ou menos um metro e noventa de altura, entrou bruscamente fechando a porta atrás de si.

Apontava um revolver para a minha cabeça. O brilho sinistro do seu olhar se destacava na obscuridade da sala, iluminada apenas pela vela que eu segurava com dificuldade. Olhar que penetrava como lâmina afiada em meu corpo, matando toda minha vontade de lutar.

Como estátua ali fiquei à espera dos acontecimentos.

O homem, depois de segundos que pareceram horas intermináveis para mim, ordenou em voz baixa e firme que soou como um estrondo em meus ouvidos:

- Rápido, pegue todas as joias!

- Joias?!... Mas, que joias? - Perguntei apavorada, pois não tinha nenhuma joia.

- As joias que tem guardadas, que eu sei.

- Juro por Deus que não tenho joias!

- Não se faça de idiota e me entregue logo, mulher!...

A expressão do ladrão se contraiu e o meu medo aumentou. Eu estava quase pedindo de joelhos que me poupasse, porque realmente dizia a verdade.

- Se não me der as joias vai morrer, não tenho tempo a perder com uma metida a espertinha!... Vamos!

Quis dizer mais alguma coisa em defesa própria, mas minha voz me traiu. Da minha garganta saiu apenas um gemido apagado.

O monstro desumano engatilhou a arma, produzindo um estalido horrível. O som do movimento foi o pior de todos os sons já captados por meus ouvidos. Era o som da morte.

Continuei sem poder falar, tal o pavor que sentia. Apenas o meu coração batia descompassado no peito.

Pensei numa possível saída: atirar-me sobre ele ou gritar por socorro. Mas logo conclui que não daria certo. O cano do revolver estava na minha testa.

O suor escorria pelo meu corpo trêmulo. O medo tinha tomado conta de todo o meu ser.

Sempre pensei não ter medo da morte e ali estava uma prova do meu grande engano.

O dedo firme do homem puxou o gatilho lentamente. Tudo à minha volta começou a girar como um pião.

Quando tudo parecia perdido, ouvi um som distante.

Assustei-me com aquele som que me pareceu a campainha de um despertador.

Mas, graças a Deus, era mesmo o meu despertador!

Dei um pulo da cama e olhei o relógio sobre a mesinha de cabeceira, que marcava 5 horas da manhã. Eu tinha viagem marcada para 6 horas e por isso havia posto o relógio para despertar.

Joguei-me de novo na cama com o corpo todo mole, para me refazer do susto.

Eu tinha acabado de acordar de um pesadelo terrível, naquela noite interminável.

Julieta Bossois
Enviado por Julieta Bossois em 23/03/2011
Código do texto: T2866010
Classificação de conteúdo: seguro