O BÊBADO
Passos hesitantes se fazem ouvir na imensa escuridão da noite.
Passam-se alguns minutos e novos passos são ouvidos. Estes são firmes e controlados.
Vê-se um vulto cambaleante surgir numa rua em tosca iluminação. Surge, logo após, outro vulto imponente e ereto.
O primeiro para, obrigando o outro a fazer o mesmo. Olha para trás e nada vê, pois seus olhos estão cobertos por um nevoeiro cinzento.
Continua a caminhar tropeçando em suas próprias pernas.
O segundo o segue em paciente silêncio.
De repente o bêbado cai pesadamente sobre o chão imundo.
O outro se aproxima e colocando-o nos braços fortes, carrega-o cuidadosamente.
Volta e entra na mesma escuridão de onde haviam surgido.
Seus passos são os mesmos, firmes e controlados.
Entra numa pequena e humilde casa. Deposita seu fardo numa cama envelhecida pelo tempo, sob o olhar triste de toda uma família.
Alguns choram. Outros estão endurecidos pelo sofrimento.
O homem de passos firmes olha para cada membro da infeliz família e se retira lenta e silenciosamente, deixando em cada um, a paz reconfortante e uma grande fé, às quais já haviam trocado pelo sofrimento e pela desesperança.
Contemplam o trapo humano despojado inconsciente sobre a cama tosca a se agitar, como se tentasse escapar de algum monstro horrível que o perturbava.
Pensando naquele personagem estranhamente tranquilo, unem-se numa só voz elevando uma prece a Deus. Uma prece simples, mas cheia de esperança e fé.
Logo depois o bêbado podia ser observado a dormir plácida e tranquilamente, um sono silencioso e profundo.