A espera.
Sofro por esperar, em vão.
Vejo aquela porta que nunca se abre, para que, por ela entre a Diva dos meus sonhos. Por mais que eu tente, não consigo tirá-la da memória.
Diferente do sol e da chuva – certeza das estações do ano – é minha esperança de vê-la novamente, pra sentir o teu cheiro, ouvir a tua voz, mergulhar em teus cabelos lisos...
Ontem a chuva lavou toda a sorte da minha esperança, pois o telefone tocou era você chamando pela nossa filha, ao atender estremeci e o telefone escapou dos meus dedos. Fiquei cego, tudo escureceu, mas eu só via a sua miragem envolta no seu roupão lilás, e me chamava. Atônito e imóvel, meu corpo não esboçava qualquer reação; o telefone tocou novamente e pude deparar comigo estatelado no chão; o aparelho vibrava entre os meus dedos, então percebi a minha fragilidade diante desta patranha amorosa.
Percebo com isso, que ainda não me levantei da queda. Como o telefone, o meu coração vibra, a minha voz ressoa, mas como uma miragem você não responde, a vejo, mas não posso tocá-la. Esforço-me para levantar deste chão, mas de novo o telefone ecoa a sua voz.
Quero me libertar, sair, correr, mas a inércia me castra esta possibilidade. Devo desacovardar-me, acordar-me deste pesadelo que me tortura e ir em busca de novos ares.
Para fugir de mim, vou abrir aquela porta e por ela sair; embebedar-me-ei desta chuva, posto que ainda não saí do chão, e deixarei que ela me banhe, que tire das minhas entranhas o meu coração e o purifique, cegue de vez os meus olhos e apague dele sua miragem, e, que esta água barrenta desbote o seu roupão lilás, que o vento cesse para tirar da minha visão estes teus cabelos flutuantes.
Sinto que a tempestade finda.
Vejo que estou num jardim, e me sento num banquinho, mas não me resta alternativa a não ser esperar, mas agora sem sofrer; sabendo de fato que você nunca mais irá voltar.