O FUGITIVO

Um relâmpago cortou o céu cinzento. Logo em seguida um estrondo fez-se ouvir assustador.

O animalzinho gemeu amedrontado num cantinho escuro e frio de uma estreita e humilde rua.

A chuva começou a cair ruidosamente. Seus pingos pareciam pedras preciosas brilhando sob o clarão dos raios fulminantes.

O cãozinho quis correr pela rua molhada, mas não teve coragem. Afinal, aquilo parecia o fim do mundo.

Seu coração acusava o medo que sentia. O corpinho molhado tremia, agitando o pelo macio e negro.

Passaram alguns minutos de calma, porém, em seguida novo clarão veio lembrar a ele que aquilo ainda demoraria a acabar.

O que fazer agora?

Certamente se escapasse nunca mais fugiria de casa como tinha feito.

Se pudesse voltava correndo para demonstrar o seu arrependimento, abanando o rabinho com alegria.

Anoiteceu...

A tempestade continuava impondo sua superioridade à insegurança do pobrezinho.

Permaneceu no mesmo lugar muito quieto e apavorado durante toda a noite.

Mas, aquela situação não poderia durar para sempre e assim finalmente surgiu um dia claro e morno. As gotas de chuva nas folhagens brilhavam sob os raios solares.

O menino saiu à procura do seu fugitivo.

Lá estava ele trêmulo de frio e medo. Somente quando avistou seu dono e amigo é que teve coragem de sair do esconderijo, que na realidade nada escondia.

Correu ao encontro do menino e pôde demonstrar todo o arrependimento e todo o carinho que sentia por ele, abanando sua vasta e negra calda.

Naquele momento compreendeu o quanto necessitava da criança que tanto o amava. Nunca mais fugiria, pois compreendeu também que ninguém pode viver só.

Feliz e aliviado voltou para casa em companhia do garoto.

Julieta Bossois
Enviado por Julieta Bossois em 21/03/2011
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