O FUGITIVO
Um relâmpago cortou o céu cinzento. Logo em seguida um estrondo fez-se ouvir assustador.
O animalzinho gemeu amedrontado num cantinho escuro e frio de uma estreita e humilde rua.
A chuva começou a cair ruidosamente. Seus pingos pareciam pedras preciosas brilhando sob o clarão dos raios fulminantes.
O cãozinho quis correr pela rua molhada, mas não teve coragem. Afinal, aquilo parecia o fim do mundo.
Seu coração acusava o medo que sentia. O corpinho molhado tremia, agitando o pelo macio e negro.
Passaram alguns minutos de calma, porém, em seguida novo clarão veio lembrar a ele que aquilo ainda demoraria a acabar.
O que fazer agora?
Certamente se escapasse nunca mais fugiria de casa como tinha feito.
Se pudesse voltava correndo para demonstrar o seu arrependimento, abanando o rabinho com alegria.
Anoiteceu...
A tempestade continuava impondo sua superioridade à insegurança do pobrezinho.
Permaneceu no mesmo lugar muito quieto e apavorado durante toda a noite.
Mas, aquela situação não poderia durar para sempre e assim finalmente surgiu um dia claro e morno. As gotas de chuva nas folhagens brilhavam sob os raios solares.
O menino saiu à procura do seu fugitivo.
Lá estava ele trêmulo de frio e medo. Somente quando avistou seu dono e amigo é que teve coragem de sair do esconderijo, que na realidade nada escondia.
Correu ao encontro do menino e pôde demonstrar todo o arrependimento e todo o carinho que sentia por ele, abanando sua vasta e negra calda.
Naquele momento compreendeu o quanto necessitava da criança que tanto o amava. Nunca mais fugiria, pois compreendeu também que ninguém pode viver só.
Feliz e aliviado voltou para casa em companhia do garoto.