Fundo da América do Sul Parte 4

...Meados de 1985

Estávamos dançando no mais louco rocking roll cheios de cerveja, muita nicotina,... Foi quando ouvi pela primeira vez na vida os acordes de “tempo perdido”... Fiquei chapado,

- Ba! O que é isso meu Deus!

Saindo da pista vi aquela garota me olhando e cantando com a aorta pulando no pescoço; Pensei...

- Pó essa garota tá me achando com “cara de batatas-fritas”! Porquê?

Então ela me pegou pela mão e disse:

-E ai meu! Vamos dançar “Legião”?

- O quê?

- “Urbana Legio Ominia Vincit”! Legião Urbana é uma banda nova de Brasília, os caras são muito bons!

- Ba! A mina fala até latim! Vamos lá...

Começamos a sapatear aquela música jovem, cheia de 3 acordes novos, rock brasileiro! Que falava de meu tempo e do que eu gostava de falar! Foi uma pancada no meu cérebro; E só alimentou minha vontade e necessidade de escrever meus pensamentos, pois aquele cara podia escrever daquele jeito, eu poderia também, tentar, escrever poesia!

- E ai meu! Tava te olhando dançando ali com teus amigos, vocês são bem loucos hein! Parece uma turma de “Punkeiros” que dançam rocking roll, hahaha...

- Quando a gente se reúne pra dançar é para exorcizar a semana!

- Essa banda ai vai fazer muito sucesso, tu vais ver, esse é o primeiro disco dos caras, mas tem muito para falar, eles falam para os jovens dos tempos de hoje, escuta essa ai chamasse “Andréa Doria”, adoro!

- Aquela garota tava me convencendo, os caras eram muito bons...

E aos novos três acordes da música paramos de pular entrelaçamos as mãos, tudo tornou-se magia, camisa encharcada, lata de ceva na mão, com dedos entrelaçados erguemos as mãos para os céus e Renato Russo gritou:

“- Nada mais vai me ferir, é que eu já me acostumei, com a estrada errada que eu segui, e com a minha própria lei...”

A encostei no peito, e a senti ofegante, deliciei em seu perfume, deslizei meu rosto no dela, então ela disse:

- Sabe que te achei com cara de batatas fritas!?

- Capaz? Pensei a mesma coisa quando te olhei! Vamos pegar uma cerveja, já ouvindo um monte de três acordes novos de “Índios”...