Presente de Casamento
Tempos difíceis, aqueles. Era o final da década de 80, eu começava a minha vida profissional, o salário era uma miséria. Não havia as facilidades de crédito, como se tem hoje, que dá para maquiar a pobreza. Para comprar um simples eletro-doméstico era necessário uma parafernália burocrática: estar trabalhando com carteira assinada há um determinado tempo, avalista, endereço de três pessoas conhecidas... Cartão de crédito era só para classe média-alta e ricos. Para o pobre restava conquistar a confiança dos donos de mercadinho e comprar fiado, “pendurar a conta”.
Eu estava nesta situação de pobreza quando fui convidado para a festa de casamento de um amigo. O evento se aproximava e eu não conseguia arrumar dinheiro para comprar o presente. Nesta época eu estava noivo, preparando-me para casar também, dali a alguns meses, de modo que estava endividado até o pescoço. Eu e minha noiva pensamos em emprestar um grana para comprar o presente, mas até isso estava difícil.
A única alternativa era procurar algo no mercadinho da vila, onde comprávamos fiado, para pagar ao final do mês.
Fomos pra lá. Só havia alguns utensílios simples, de cozinha. O mais interessante que achamos foram pratos de vidros, levemente azulados, bonitos. Compramos doze e caprichamos no pacote para presente.
Mas eu não estava de todo contente, afinal eram somente pratos. Achávamos inconcebível dar pratos como presente de casamento! Ficamos um pouco acabrunhados com aquilo, porém não havia o que fazer, era o que conseguíamos presentear.
No dia do casamento houve um contratempo e não podemos ir na igreja; fomos mais tarde, direta ao local da festa. Chegamos na recepção e entregamos à mãe da noiva o presente, um pouco envergonhados, por ser tão simples.
Pouco depois estávamos timidamente sentados na mesa, quando veio até nós os noivos, os pais e mais alguns parentes. Todos riam, gritavam. Felizes da vida nos cumprimentaram, nos abraçaram e agradeceram imensamente.
Eles não haviam comprado pratos, e aqueles eram os únicos que ganharam.
Eu e minha noiva respiramos fundo e brindamos a felicidade dos noivos...e a nossa.