DIA TERRÍVEL
- Ai, que dor!
- Onde está doendo?
- Meu dente. Uff! Quanto tempo não passava por isso?
- Amanhã vamos ao dentista. Vamos resolver esse problema antes que se torne algo mais grave.
- Tou com medo! Você segura minha mão? Vai entrar comigo, sim?
- Claro, não vou lhe deixar sozinha, um minuto sequer.
- E se eu não tiver coragem? Vou sair correndo, viu?
- Nada disso, você é bem grandinha. Seja forte! Pense em coisas alegres e logo tudo terá passado e você vai ver que o medo é que faz a coisa ficar feia.
-Tá bom! Mas tou me sentindo uma ovelha indo pro matadouro.
- Coragem! Logo tudo passa.
Chega o dia, e logo a consulta é marcada. Por não ter sido antecipadamente agendado, a paciente medrosa teria que ficar por último. Ela ia, em proporção que a hora se aproximava, ficando murcha, calada, trêmula...
- A próxima! – Sinaliza a recepcionista. A paciente entra toda espremida. A dentista acostumada com o quadro foi logo tranqüilizando a medrosa.
- Calma. Não vai doer nada.
- Eu vou chorar! Ai, doutora! Tenho tanto medo! Olhe não deixe doer, viu?
A dentista acalma a paciente e começa o lento trabalho. Anestésico, broca... Jatinho, medicamento... Recuperação do dente maldito e logo o trabalho está encerrado.
-Uffa! Pensei que ia doer mais! Tou tremendo até agora! Chorei tanto e vocês nem tiveram pena de mim!
Todos aliviados sentem que mais uma batalha foi vencida. Afinal, a paciente tremia muito, fechava a boca quando era para abrir, as bochechas e olhos saltitavam como se fossem carne de jia, e as lágrimas desciam aos borbotões.
- E agora quando posso marcar a outra volta? Preciso fazer as outras obturações.
- Ah, tomou coragem, foi? – responde a atendente risonha. - Mas essa que foi feita hoje ainda não está pronta, não. Foi apenas colocado um medicamento, ainda tem mais três voltas...
Decepção. A paciente deita a cabeça e solta um longo suspiro.
- Pensei que o suplício tinha passado.
Depois de receber as receitas das mãos da dentista, sai dali amparada por mãos amigas. Remarca a volta, mostra a mão trêmula... Não consegue descer a escada sem tropeçar nas pernas... Daí ouve a frase que faz seu coração sossegar:
- Ô, mãe, já passou! Agora, deixe-me pegar na sua mão pra senhora não cair e se machucar.
- Obrigada, filho. Você é muito corajoso. Nem parece que tem apenas dez anos de idade.