Perguntas e Respostas (ou Lucas e Luísa - uma estória singular)

Não há alguém que tenha resposta para todas as perguntas.

E se houvesse esse alguém? Teria quem tivesse uma pergunta para todas as respostas?

Lucas queria responder a todas as perguntas, ao passo que Luísa parecia sempre perguntar aquilo que ninguém imaginava perguntar ou que não tinha coragem.

O QUINTO NAIPE

... Eu não entendo por que raios a Letícia se comportou daquela maneira – perguntava-se e se lamentava Caio ao lado do seu amigo Lucas.

_ Essa questão está mais do que óbvia, meu caro.

_ Vai me dizer que até isso você sabe? Não seja tão pretensioso, você até pode saber as incógnitas que o professor dá nas aulas de Física, mas saber por que a Letícia agiu de tal forma será demais pra mim.

_ Meu amigo, nada fica sem uma solução. A sua Letícia agiu daquela forma porque falta algo a mais na vida de vocês.

_ Bravo! Bravíssimo meu caro Lucas, grande conclusão, agora manda ai o que falta pra mim e pra Letícia completar uma seqüência de cartas que termine em ais?

_ Pelo visto você anda jogando bastante pôquer. O ais que falta pra vocês é de um naipe especial. Um naipe que precisa haver em todos os relacionamentos...

_ Conta logo vai – interrompeu Caio.

_ Falta cumplicidade.

_ Cumplicidade?

_ Isso! Um tem que ser cúmplice do outro. Se um está em dificuldade ou faz algo errado o outro deve apoiar e ajudar, e também se fizer certo ambos tem que partilhar dos bons frutos. O exemplo que vou dar é meio estranho e você vai pensar que ando assistindo muito filme de policial, mas a cumplicidade é mais bem vista no ângulo dos bandidos: imagine uma dupla de bandidos e que um dos elementos da dupla é pego por uma emboscada da polícia e o outro não; este que não foi pego faz de tudo para livrar o parceiro, em alguns casos até se joga na direção da arma quando o tiro de revolver é disparado, pelo outro lado quando a dupla de bandidos obtém sucesso no roubo, ambos compartilham o que conseguiram. Assim também deve acontecer num relacionamento sincero em que um se torna parte do outro e vice-versa.

_ Entendi, só uma pergunta.

_ Faça.

_ Qual o próximo lugar que iremos assaltar?

_ Pode ser a geladeira. – respondeu Lucas caindo na gargalhada junto com seu amigo.

EXAGEROS

... certas coisas eu não entendo.

_ O quê? – perguntou Luísa.

_ O Rodrigo tem agido de maneira estranha comigo, posso estar pensando coisas demais.

_ Vejamos, ele tem sido muito atencioso com você nesses últimos dias?

_ Pior que sim.

_ Não é um bom sinal, todo exagero é digno de desconfiança. – disse Luísa à amiga Natália.

_ É isso que não entendo.

_ Por que você não ignora ou faz pouco caso dessa super atenção que ele anda te dando? Agindo assim você terá algumas conclusões do tipo insegurança ou até pode ser uma desculpa pra que ele caia fora afinal você também não está nem aí pra ele.

_ É verdade, olha Luísa, você indaga certas coisas que são melhores do que conselho.

_ Que isso, eu acima de tudo questiono o mundo ao meu redor, sei que não há resposta pra tudo, mas somente através das perguntas é que poderemos responder o que queremos saber.

PERGUNTAS E RESPOSTAS

_ Não serei eu, nem será você que responderá a pergunta fundamental, aquela que quando for respondida trará grandes dilemas.

Luísa estava na cobertura do prédio em que ocorria uma festa de jovens. Ela subira até o topo após sentir uma sensação ruim que foi causada após um estranho ter respondido uma pergunta que ela colocara no ar e que jamais imaginaria ter resposta.

_ Se nós soubéssemos o porquê de estarmos vivos, não perderíamos nosso tempo, não nos destruiríamos e nem estragaríamos nossos corpos com esses lixos industrializados que proporcionam um prazer limitado e nem um pouco duradouro. Alguns dizem que temos um destino, outros dizem que temos uma missão a cumprir, há ainda quem diga que somos sucessão de uma vida anterior. Não passa de suposição, fazemos perguntas atrás de perguntas e nada de respostas, ou melhor, não há sequer uma resposta para todas as perguntas.

_ Concordo com você, mas seus questionamentos não irão adiantar, não serão eles que vão acender a luz no fim do seu túnel de dúvidas. – disse Lucas entrando no meio da conversa após ouvir o discurso de Luísa.

_ O que esses dois beberam? Será que sobrou um pouco pra mim dessa raridade que eles encontraram? – perguntou um rapaz qualquer que já estava bem alto e bem admirado com o diálogo nada comum para uma festa.

_ Se soubéssemos o porquê de estarmos aqui o que faríamos? Olharíamos um para cara do outro e perguntaríamos: e agora? Respondo-lhes: seguiríamos nosso caminho, e cada um vai irá pensar que a “tal missão” deve ser feito sozinho, mas no fim nos encontraríamos no mesmo barco, pois a missão de cada um depende do que o outro irá fazer.

Luísa nada disse e foi nesse momento que ela subiu até a cobertura e nesse momento ela está próxima do parapeito que a divide um precipício de cinqüenta metros.

_ Pare com isso vai! Será que aquele maluco já não respondeu o suficiente!? – gritou Alex que correra atrás dela mais ainda estava um pouco distante de Luísa.

_ Ele acha que tem todas as respostas? Tem nada! Nem eu tenho a pergunta crucial e fundamental. Já estou cansada de questionar e questionar, vou procurar a resposta em outro lugar. – disse Luísa que saiu correndo e se jogando no ar ao mesmo tempo em que Lucas e outras pessoas chegavam até a cobertura sem tempo de impedi-la.

_ O que deu nela? – perguntou Lucas.

_ Ela se rendeu ao perceber que não sabia a pergunta fundamental. – respondeu Alex.

Luísa pairava no ar e em seus pensamentos viu a luz no fim do túnel chegando cada vez mais perto, porém não sentiu o impacto, não sentiu a morte, e a luz se intensificava cada vez mais e mais. De repente um barulho imenso em sua mente, e o barulho sem distinção agora se tornou vozes de pessoas, Luísa experimentou abrir os olhos e viu que estava viva e sentada num banco do metrô ao lado de sua amiga Natália.

_ Tudo bem contigo? – perguntou Natália.

_ Sim, para onde estamos indo? – perguntou Luísa ainda perdida.

_ Para a festa no apartamento do meu amigo Caio, lá vou te apresentar ao Lucas, ele combina bastante com você.

_ Lucas?

_ Sim, por que estranhou? Por acaso você o conhece?

_ Sei lá, o nome não me é estranho.

_ Eu hein! Você às vezes me assusta. Ah não vai beber hein! Porque senão você começa a filosofar e já viu.

Algum tempo depois...

Luísa e Natália chegaram à festa e ficaram no sofá e de lá assistiram um diálogo estranho. Uma menina começou a falar um monte de bobagem, uma filosofia sem nexo e um outro maluco começou a dar corda na conversa dela, e isso deu em acidente.

_ Quer ver, essa maluca vai subir as escadas e ir até a cobertura e lá continuar seu “showzinho” particular. – disse Luísa.

_ Quase você acertou hein, mas a menina parou nas escadas, bêbada daquele jeito ela não conseguiria subir. – disse Natália que acompanhou a cena.

POR QUE O CÉU É AZUL?

_ ... ai está ele!

_ Ele quem?

_ O Lucas, o garoto que vou te apresentar. – respondeu Natália.

Lucas cumprimentou as meninas e sentou ao lado de Luísa e do momento em que a conheceu começou a sentir algo estranho, mas não era ruim.

_ Então você é o famoso Lucas? – perguntou Luísa.

_ Sim, o próprio, mas desde quando sou famoso?

_ Nada não, esquece. – disse Luísa.

Nesse momento Natália sai e deixa os dois sozinhos e a conversa entre os dois toma um rumo que agradou aos dois: Luísa sempre pergunta e Lucas sempre responde.

_ Por que só você pergunta?

_ Por que só você responde?

_ Não há resposta para essas duas perguntas. – respondem os dois em uníssono.

_ Por que você também não pergunta? – sugeriu Luísa.

_ E você irá responder aquilo que eu te perguntar? – perguntou Lucas.

Lucas pensou bastante antes de perguntar, e quando isto aconteceu veio de forma espontânea, e nada racional.

_ Por que eu me apaixonei por você desde o primeiro momento em que te vi?

_ Se você perguntou isso é porque você não sabe a resposta, não é? Respondo então: há coisas que acontecem porque devem acontecer e não devemos questionar e nem tentar responder, simplesmente acontecem. A Natália me contou que você tem fama de ter resposta pra todas as perguntas e com certeza ela deve ter dito a você que eu faço perguntas que ninguém faz ou não tem coragem de fazer.

_ É verdade, ela contou, mas você ainda não respondeu a pergunta que te fiz.

_ Espera lá, quem gosta de responder aqui é você, eu apenas pergunto.

_ Então me pergunte algo que talvez eu não saiba responder.

_ É comigo mesmo. Humm, uma pergunta que você não saberá responder, que tal essa: Você poderia me responder por que no meu sonho que tive a caminho daqui eu discuti contigo e nele fiz várias perguntas e questionamentos e você soube respondê-las como ninguém nunca fez? E uma segunda pergunta: por que fiquei tão admirada ao te ver sendo que na hora que acordei do sonho eu sequer me lembrei.

_ Você me pegou.

_ Posso te ajudar?

_ Claro.

_ Há perguntas que não se respondem com palavras e sim com atitudes.

Luísa pegou na mão de Lucas e o levou em direção as escadas e subiram até o terraço do prédio. Lá em cima Lucas tirou a prova de que não há resposta para todas as perguntas e as que têm resposta nem sempre se responde com palavras, e Luísa conheceu alguém que lhe responderia as perguntas enigmáticas que ela sempre faz.

_ As boas respostas nascem de boas perguntas. – filosofou Lucas sentado na grama do lado de Luísa.

_ ... Por que o céu é azul? – perguntou Luísa num dia claro e sem nuvens

_ Porque ele é um reflexo dos seus olhos.

06/11/06

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 06/11/2006
Código do texto: T284010
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