Conseqüências de uma vida dominada pela depressão
Por muito tempo ela vinha escondendo seus sentimentos, ela não se preocupava em dizer aquilo que estava destruindo-a por dentro. E quando entrava em seu quarto, naquela solidão, um turbilhão de pensamentos passava pela sua cabeça, ela já não sabia mais pra onde correr. Ela precisava de alguma forma, tentar colocar pra fora aquilo que estava machucando-a.
Aquele sentimento de abandono, de inutilidade. Sentia-se incapaz de fazer alguém a sua volta sorrir, ela sentia como se sua presença incomodasse, as pessoas pareciam mais felizes quando ela não estava por perto. Por muitas vezes ela pensava – O que fiz pra ser tão menosprezada? Esse fardo é muito pesado para que eu possa carregá-lo sozinha. Que tipo de pessoa me tornei? uma pessoa que só atrai sofrimento por onde passa. Quando serei o suficiente pra você, mãe? Quando foi que me tornei essa pessoa fria?
Enquanto ela refletia sozinha em seu quarto, ela tentava achar alguma forma de não cometer um ato que poderia mudar tudo pra sempre. Logo ela se isolava, na esperança de conseguir dormir, para que pudesse sair daquela realidade horrível e solitária, que se tornaram seus dias. Ela tentava mudar, tentava se enturmar, mas as pessoas ao seu redor eram fúteis, mentirosas. E isso fazia com que ela fosse se isolando cada vez mais.
Por muitas vezes ela pensava na injustiça que era o mundo ao seu redor. Em como era ruim você não conseguir ser o bastante pra ninguém, principalmente paras as pessoas que deveriam lhe aceitar do jeito que é. Ela tentava de todo modo agradar, mas nada mudaria o que ela sentia por dentro, quando ela se trancava em seu quarto só ela sabia o que ela sentia. E por detrás do sorriso que ela trazia no rosto, ninguém poderia perceber quanta dor tinha dentro de seu peito. Por muitas vezes ela segurava o choro na frente das pessoas, para não precisar responder o porquê de tanto sofrimento. E no fundo ela sabia que ninguém se importava com isso. Então pra que deixar transparecer se ninguém vai se importar? E conforme os dias passavam, ela procurava meios errados pra solução de seus problemas. Mas nada daquilo resolvia. O efeito do álcool poderia durar a noite toda, mas pela manha a dor voltava, e mais forte do que antes.
Há algum tempo ela planejava acabar com tudo. Mas nunca tinha coragem o suficiente pra isso. Mas ela já não via mais saída. Até que certa tarde, quando estava sozinha em sua casa, ela resolveu colocar em prática tudo aquilo que ela planejava. Procurou nas gavetas do armário várias cápsulas de remédio que pudessem ajudá-la naquilo, pegou um copo de água, um canivete e um papel pra escrever um bilhete. Sentou-se no chão da sala e começou a escrever: “Há algum tempo venho planejando isso tudo. Eu queria deixar bem claro que ninguém me levou a fazer isso, talvez tenha sido por puro fracasso meu, não sei. Eu queria dizer que todas as vezes que eu dizia que estava bem era mentira, mas se eu dissesse ao contrario vocês não iriam entender. Eu tentei, tentei mudar, tentei lutar contra esse sofrimento que invade meu peito, mas é mais forte do que minhas forças podem suportar. Mãe, eu sei que em todas as vezes que a senhora me obrigou a ir ao psiquiatra era porque queria me ajudar, me desculpe por todos os problemas que lhe causei, me perdoe por não ter sido a filha que a senhora tanto queria. Mas eu sei que vocês ficarão bem sem mim. Talvez seja egoísmo da minha parte, mas no fundo vocês sabem que não é. Que falta faria mais um deprimido no mundo? Não agüento mais essa voz que diz em minha cabeça o quão fraca sou, e o valor que não tenho. Decidi por acabar com tudo de vez. Não se culpem a única culpada por todo esse fracasso sou eu. Perdoa-me Pai, eu te amo Mãe.”
Ela colocou o bilhete sobre o sofá, e tomou todos aqueles comprimidos. Logo colocou o canivete sobre o pulso, e enquanto ela tomava coragem pra fazer aquilo passava um filme de toda sua vida de merda em sua cabeça. Ela se cortou, desmaiou. Caiu em um sono profundo e talvez nunca mais voltasse a despertar.