ARMADILHA

– Oi! Tudo bem?

– Sim! E você como vai? Há quanto tempo!

– Deixa ver, faz já quatro anos.

– Como vai o Giba?

– Não sei. Nos separamos já há dois anos.

– O que houve?

– Sabe! Acho que foi aquele tipo de paixão fulminante. A gente acha que está apaixonada aí resolve morar junto, logo descobrimos que não tem nada a ver. Então...

– Sei!

– E você? Continua só?

– Sim! Acho que não conseguiria mais ter uma vida de casado.

– O que deu errado entre nós dois?

– Você era muito jovem! São 38 anos de diferença

– Não sei! Para mim isto não tinha importância.

– Tem diferença sim, você tinha 24 anos, queria viver, ir à festas, essas coisas de uma mulher jovem.

– Quando nos conhecemos eu tinha 16 anos.

– Sim, e já tinha vivido dois anos com um quarentão.

– Coisas da vida, eu era pobre, sem ninguém, órfã e morando na rua.

– Sim! Aí ele morreu e eu encontrei você, abandonada, jogada na rua de novo.

– Sim, você fez muito por mim, acho que nunca deixei de te amar.

– Não! Você confundiu gratidão com amor. O Giba prova isso. Ele era um playboy, festas, carros de luxo. Só aí você descobriu que ele era traficante.

– Você sabia?

– Claro! Há muito tempo. Não sei como você sobreviveu as drogas.

– Ele tinha uma norma, não tomar o próprio veneno.

– E agora? O que pretende fazer? Precisa de ajuda novamente?

– Não! Você me fez estudar lembra? Lembra da noite em que me acorrentou ao pé da cama?

– Sim! Você queria ir a uma festa.

– Doeu, machucou a canela, mas fico grata por isso. Trabalho em um escritório de contabilidade.

– Mas, você está aqui e isso me diz que quer algo.

– Sim! Quero. Bem! Nem sei como dizer!

– Simplesmente diga!

– Você ainda... ainda é capaz de fazer um filho?

– Um filho? Bem, claro sou um homem normal estou velho, mas ainda está tudo funcionando. Mas, que papo é este?

– Bem! Você, quando te conheci você era separado, tinha quatro filhos, todos homens.

– Sim! Nunca tive uma filha mulher.

– Pelo que sei são todos saudáveis e inteligentes.

– Sim, tive sorte. Ou talvez Deus não tenha me dado uma filha mulher, por precaução.

– Quer dizer que as chances de você fazer outro filho homem é grande?

– Bem! Pelas leis da probabilidade...Mas onde quer chegar?

– Quero um filho seu!

– Você! Você quer um filho meu?

– Sim! Não quero casar mais. Mas quero ter um filho.

– Porque eu?

– Você sabe, você é um homem bonito ainda e inteligente. Quero um filho bonito e inteligente.

– Certo! Você é muito bonita, aliás, está ainda mais bonita. E se vier uma filha mulher?

– Bem! Será bonita e inteligente, assim espero.

– Bem! Isso é complicado. Veja, não quero gerar um filho e abandoná-lo por aí. Tudo bem, estou velho. Não sei nem mesmo se chegarei a vê-lo crescer. Isto me assusta.

– Bobagem, você está ainda inteiro, com saúde. Então? Então eu ficarei com você até o fim.

– Até o meu fim, você quer dizer.

– Bobagem, posso morrer antes de você!

– Bem! Gosto de você, sempre gostei, mas ter um filho? – É isso ou vai me ver voltar para a rua.

– Isto é chantagem!

– Não! Eu não tenho mais nada que me interesse, o trabalho no escritório é um saco. Preciso de algo que me dê forças pra continuar agüentando aquela merda. Puxa! Eu gosto de você! Não sei se é amor, mas é um sentimento bom. Perto de você me sinto segura. Nem sei como levei tanto tempo para voltar aqui.

– Está bem! Vou pensar! Quando nos vemos de novo?

– Como assim? Já trouxe as minhas malas. Estão lá fora. – Escondidas no jardim?

– O que você acha?

– Então? Você...

– Que tal começarmos agora?

FIM

Lauro Winck
Enviado por Lauro Winck em 07/03/2011
Código do texto: T2833744
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