MULHERES NA NOITE RUBRA
A noite está fria, as mulheres chegaram ali faz meia hora.
Rutineia fala para a amiga:
“Sabe, hoje eu li um livro bem legal!”
“Que livro, algum sobre como sobreviver no frio?”
“Não: Rapunzel!”
“Você lê essas porcarias, é?”
“Foi o primeiro que eu li, minha filha ganhou na escola. E você, quantos já leu?”
“Bem uns dez, mas confesso que nunca fui de ler, não; só li porque minha madrasta me obrigou...”
“Nossa, ela fazia isso, era?!”
“Fazia. Agora a megera não faz mais.”
“Olha só, tá vindo um carro aí...”
“Aí, posso ir? Hoje eu tô muito a fim, sabe como é.”
“Vai lá, menina!”
O carro para, Suélem se aproxima toda serelepe, mas o veículo logo vai embora.
“O que aconteceu?”
“O desgraçado achou caro. Pão duro de uma figa!”
“Olha, tá vindo outro carro!”
“Agora vai você.”
Rutineia se aproxima, e o carro vai embora.
“Vai ver o sacana também achou caro, né?”
“Sei lá, menina! Era uma mulher... Ela me olhou com uma cara esquisita e caiu fora!”
As duas riram.
Aí Rutineia pergunta:
“Quer que eu leia a Rapunzel pra você, Suélem? Eu trouxe na bolsa!”
A outra faz um gesto de impaciência:
“Lê, vai; assim o tempo passa mais rápido!”
Então Rutineia puxa o livro da bolsa e começa a ler:
“Era uma vez...”
E coração dela, acreditem, se sacode todo a cada palavra pronunciada!