E se te fosse concedido um único desejo?

- Adriana, e se te fosse concedido um único desejo?

- Essa é fácil...

- Cuidado, é um desejo só. Não poderá voltar atrás, não poderá se lamentar. Atenção para não se arrepender.

- Continua sendo fácil...

- Então me diga.

- Eu gostaria de receber, em uma bandeja de prata, a cabeça do infeliz que inventou que amar significa querer o bem da pessoa amada independentemente.

- Me desculpe, achei que gostaria de dinheiro...

- Dinheiro? Sou inteligente e vou ao fim do que quero, não gastaria meu desejo com isso.

- Fama?

- Nunca, não seria minha própria conquista, seria comprar algo que eu terei inevitavelmente.

- Então...

- Olha só, não sou altruísta, nunca fui e nunca serei. Sou possessiva, ciumenta, dominadora e quero tudo de quem estiver ao meu lado, o sangue, a alma, o cérebro. Quanto mais eu puder manter alguém preso dentro da minha bolha de ar especialmente criada para projetar e modificar o que estiver dentro, melhor para mim.

- Nossa...

- Nossa? Vai dizer que você quer ver aquela sua ex com outra pessoa?

- Não, mas..

- Não, mas... não, não... Você quer mais é vê-la amargurada, sofrendo pela sua ausência, percebendo o erro que cometeu. Então, na verdade, eu acho que se você tivesse um só desejo, deveria pedir o mesmo que eu. Sabe como é, para servir de exemplo para os outros idiotas que resolverem colocar na cabeça que só querem ver o amado feliz.

- Mas isso não é muito radical?

- Eu não creio que é radical expor o que se sente. Não devemos ser sinceros? Pois bem, a minha sinceridade só mostra o quão humana eu sou. Só mostra que eu não necessito mascarar meu ódio, minha repulsa, minha revolta, para fingir ser alguém melhor. Eu NÃO sou alguém melhor. Eu sou humana, e o que eu quero é a cabeça desse infeliz empalhada na minha parede como troféu. Como quem diz: “Viu? Seu amor está feliz sem você e você está morto aqui na minha parede para aprender a não cultivar o altruísmo”.

- Chega, não dá mais para conversar com você. Parece louca.

- Tem razão, pareço mesmo. Você deveria escolher melhor suas companhias, hein?

- Não... não foi isso que eu disse, meu bem, eu só queria te alegrar...

- Mas você me alegrou, gosto de conversar sobre essas coisas, porque não consigo fingir que sou mais uma idiota que idolatra cada passo de outra pessoa. E, felizmente, se um dia aparecer alguém que aja assim e queira somente o meu bem, do meu lado ou não, terei dois pés prontos para dar um chute. Para que essa pessoa aprenda a me dar mais valor, já que amor não é essa coisa fofa de conto de fadas e sim uma constante necessidade de engolir a outra pessoa dentro do seu próprio mundo sem que ela possa sair para respirar ou perceber que existe vida sem você.

- Hey....

- Calma, amor, com você é diferente... - e sussurrou para si mesma – até eu me cansar...

Eduarda Daibert
Enviado por Eduarda Daibert em 03/03/2011
Reeditado em 03/03/2011
Código do texto: T2825465
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