Tarde de Autógrafos.

Um belo dia, passeando pela cidade entrou em uma livraria. Foi andando pelos corredores, folheando livros, aleatoriamente, sem nada o interessar.

De repente, algo chamou sua atenção, uma poesia, emoldurando um cartaz, num canto de uma parede da referida livraria, em destaque o lançamento de um livro.

O poema por si só já bastava, misto de angústia e prazer, de algo faltando que forçava uma busca pelo resto do livro, mas, o mais interessante era a foto da autora, convidando ao lançamento e conseqüente compra, com dedicatória da própria.

Ao ver a foto, soube que estaria no dia, na porta da livraria, antes da abertura. Se a foto fosse real, encontrara o que a vida toda negara: “A existência do amor à primeira vista”.

Angustiante, desesperador, não há nem como descrever. Foi como se o tempo houvesse congelado, não passava, não chegava nunca.

No dia tão esperado, parecia noiva em dia de casamento, nada estava bom, nenhuma roupa ou sapato servia, cabelo então. E ela nem o conhecia, nem sabia de sua existência.

No dia tão aguardado lá estava ele, primeiro da fila.

Não, um desgraçado qualquer estava na sua frente. Que raiva!

Esperou com impaciência. Mas, tudo fora rápido, agora era a vez dele. Comprara dez livros, gastou todo seu dinheiro.

Ela começou autografando, sem olhar para ele. Que aflição!

Tinha que fazer, que falar alguma coisa. Tossiu, pigarreou.

Ela levantou o olhar:- ”A dedicatória é para o senhor mesmo?”

Seu coração quase parou. Faltou-lhe ar. Sentiu tonturas. Teve que sentar.

Ela solicita, ajudou a acudi-lo. Também quem compra dez livros, não é. Pegou o copo d'água e colocou em sua boca.

Enquanto bebia, seus olhos se cruzaram.

Alguém comentou que ele não devia ter comido nada, a pressão caíra, por isto sentiu-se mal.

Na verdade há dias não conseguia comer ou dormir bem, tal a ansiedade.

Estava melhor, a cor voltou a suas faces.

Pediu desculpas, constrangido pelo fato.

Ela sorriu. Contou que com ela ocorreram vários causos, alguns tão engraçados que tornaram escritos seus.

Conversaram tanto, que teve de ser alertada pelos organizadores, que o evento tinha de prosseguir.

Autografou-lhe os livros com extensas dedicatórias, que se pôs a ler, quando em casa chegou.

Surpreso ao encontrar, em uma delas o telefone e a frase:- ”Ligue, quando quiser”.

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Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 01/03/2011
Reeditado em 01/03/2011
Código do texto: T2822171
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