Cabisbaixo, o velho continua parado, quase de partida, carregando sobre as costas o peso de sua existência. A bagagem ainda lhe encurva o corpo, apesar de ter muito pouco para deixar.
Há muito, a pele fincou vincos profundos na vida passada ao largo. A escolha foi a direção do som tosco e desafinado. Passou por todas as encruzilhadas sem sorrir ou chorar.
A imagem de seu tempo permaneceu solta na respiração do vento: um passeio ligeiro, uma breve passagem sem quaisquer marcas de passos no chão. Hoje, suas mãos, quase sem expressão, amolgam o mapa que assinala o começo da trilha e a luz que ofusca os olhos na virada final.
Não se sabe ao certo, em que trecho se escondeu e quando foi que tudo se transformou em breu. Prevaleceu a certeza da inexistência do mergulho de corpo e alma nos movimentos da arte de se debruçar sobre a vida. Por vezes, "até o rei sol se cansa e se deita quando a esperança não abrolha".
Na obscuridade, o velho parte: de mansinho, sem deixar pele, sem deixar rastro, sem deixar amigo ou inimigo. Sem deixar lastro, saudades, lembrança de um sorriso. Sem guardar ou levar uma só lágrima. Sai, levando nas mãos apenas a chave da porta de uma casa sem janela.