LOLITA SÓ
LOLITA SÓ
A chegada da lei do divorcio no Brasil, foi a redenção dos mal-amados e mal-casados, porque era um sofrimento sem remédio para quem errava na escolha de seu marido ou esposa; a lei do desquite era um paliativo muito do fajuto, porque não resolvia nada, as pessoas se desquitavam, mas continuavam atrelados.
Se uma moça solteira namorasse um homem desquitado era considerada prostituta, porque o infeliz continuava impedido de começar uma vida nova e o mesmo valia para uma mulher desquitada, que tinha que virar freira, porque era olhada com desconfiança pelas suas comunidades e perdia seus direitos.
Coisa feias e tristes, aconteciam o tempo todo com os infelizes desquitados e um exemplo é o acontecido com a jovem Lolita Lira que era uma linda moça, loira, de olhos azuis, corpo bem feito,sempre alegre e sorridente; professora de religião, passava boa parte de seu tempo ensinando catecismo.
Até seus vinte anos, Lolita não arranjou namorado e os curiosos da cidade de Santa Cruz do Alto, não entendiam o porque daquela moça tão bonita e prendada ser tão solitária, mas ela ouvia calada os comentários a seu respeito, porque a verdade era que Lolita tinha um namorado sim, mas era muito bem escondido.
Aquele amor secreto era devido ao fato de que Geraldo Fontes o seu namorado era um desquitado e mesmo não sendo o culpado do desquite, ainda assim perdera seu direito de começar novamente sua vida; os dois se encontravam muito raramente, quando Lolita tinha uma desculpa para ir a uma cidade vizinha
Aquela situação incomoda e humilhante parecia que jamais teria fim, porque ele queria enfrentar tudo e fugir com ela para se casarem no Uruguai, mas ela tinha muito medo de perder o amor de sua família e o respeito de seus conterrâneos e amigos, mas por azar os dois foram vistos juntos por um de seus irmãos.
Foi um escândalo quando o rapaz contou ao seu pai, que Lolita estava na companhia de um desquitado, o velho espancou a moça sem piedade e a expulsou de casa apenas com a roupa que vestia; foi acolhida na casa de uma amiga e Geraldo foi até lá e conseguiu leva-la com ele, porque o pior já tinha acontecido.
No mesmo dia eles saíram da cidade e foram para o Uruguai onde se casaram, mas aquele casamento não valia nada no Brasil e para Santa Cruz do Alto, nem pensaram em voltar e como Geraldo era engenheiro, foram para São Paulo onde ele arranjou um bom emprego e se estabeleceram lá bem felizes.
Durante dois anos viveram em paz, porque ninguém de sua cidade sabia onde eles estavam, mas o pai de Lolita nunca se conformou com o acontecido e contratou um detetive que terminou por descobrir onde Geraldo trabalhava e o seguiu quando ele foi para casa, anotou o endereço e entregou para o velho pai.
Nessa época Lolita estava grávida de quatro meses de seu primeiro filho, sentia saudades de sua família, mas estava feliz junto do homem que amava, mas uma tarde no horário de Geraldo chegar do trabalho, ela ouviu vários tiros na rua, abriu a janela e viu Geraldo caído e seu irmão fugindo com uma arma na mão.
Ela caiu desmaiada e foi socorrida pelos vizinhos, a policia chegou e levou Geraldo e Lolita para o hospital, mas ele chegou lá morto e Lolita perdeu a criança que esperava; quando Lolita saiu do hospital não voltou para casa, tornou-se uma andarilha pelas ruas de São Paulo, repetindo sempre essa frase: Lolita só.
O irmão de Lolita foi preso e julgado pelo crime cometido, mas foi inocentado, porque eram outros tempos e quem estava errado era o morto, que desencaminhou uma inocente moça de família; agora o divorcio resolveu todos esses problemas, divorciado fica livre mesmo e pode recomeçar e tentar ser feliz, seja homem ou mulher.
Maria aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA