Dois amores
I
Bela, cansada de levar “guampa” do marido pediu-lhe a separação. Por dias e dias sentiu-se melancólica ao entrar na casa vazia após o trabalho. Resolveu voltar a estudar.
- “E agora?” “Estudar o quê?” Perguntava-se Bela.
De origem italiana, ambicionava conhecer a região de Veneto e, com alguma sorte, residir em Veneza. Para isso precisava começar por alguma coisa. Foi aí que decidiu estudar italiano.
Após as apresentações no primeiro dia de aula a professora indicou, além do material didático da escola, outros recursos de que os alunos podiam lançar mão para aprender a língua de Pavarotti.
- “Vocês podem assistir a programação da RAI, ouvir músicas, entrar em salas de bate-papo na internet...”. Disse a professora depois de contar sobre as viagens que fizera à Itália.
Bela escolheu um “chat” italiano para conversar. Primeira pessoa com quem conversou foi aquele que dois anos depois seria seu marido e passaporte para adquirir a dupla cidadania. Além de aprender o idioma na prática, estudou em detalhes o italiano.
II
Dona estudou sem cessar o ano inteiro para ingressar na universidade. Tímida desde o início da adolescência nunca havia namorado, salvo pela internet para treinar o inglês, se isso puder ser considerado válido. Depois do primeiro ano de faculdade seus pais patrocinaram um ano “sabático” para ela. Consistia em viver em outro país por doze meses e colocar em prática o aprendizado de inglês. Foi logo ali na Austrália para estudar, onde estava o inglês a metro.
Dona, mais alta que a média das moças, ficou bem feliz por ter encontrado o par ideal, com quase dois metros de altura. Infelizmente chegou a hora de voltar para seu país natal e despedir-se dele. Ao voltar, retomou a faculdade, enquanto nas horas livres conversava pelo MSN com seu lorde. Numa dessas conversas ele lhe perguntou: - “Qual o seu maior desejo neste momento?”
Sem titubear Dona respondeu: - “Que você estivesse aqui comigo”.
Ele estava no aeroporto e disse-lhe que em trinta minutos realizaria o seu desejo. Tomou um táxi e chegou a casa dos pais de Dona com pontualidade britânica.
Casaram-se antes do visto de permanência dele vencer. Dona continuou praticando inglês com o inglês. Formou-se na faculdade e atualmente cursa mestrado em Oxford, Londres, onde reside com o marido.
III
Donalda viu as primas tão bem casadas e quis imitá-las. Tratou de arranjar um marido pela internet também. Como era preguiçosa nem pensou em estudar. O outro idioma ficava por conta da linguagem do Orkut: "naum", "tc cmg", "blz", "me add" e outros diálogos marotos. Logo conheceu Danúbio. Tecla de um lado, tecla de outro, para fugir do clichê não trocaram fotografias. Combinaram um encontro no parque onde se reconheceriam pelo coração! Deram-se as coordenadas, cor de roupa, cabelo, etc. Mas Danúbio era feio como o diabo com dor de barriga e Donalda passou reto e ao longe, renegando Danúbio ao computador de onde nunca deveria ter saído.
Afinal, são apenas dois amores...
(Conto)