ESTÓRIA DO DOMÍNIO PÚBLICO.
Chagaspires.
Dizem que lá pelos idos de 1900, havia um pedinte que percorria as ruas da pequena vila, de porta em porta, a suplicar uma esmolinha pelo amor de DEUS.
Até ai tudo bem. Existem centenas de pessoas que procedem da mesma maneira tentando ganhar alguns trocados.
A diferença é que o nosso pedinte tentava atingir a caridade alheia cantando uma loa.
A loa para quem não sabe era usada pelo teatro Português e Espanhol nos séculos XVI e XVII.
Era uma cantilena utilizada como introdução ou prólogo de dramas e comédias, destinadas a captar a simpatia e maior participação dos espectadores.
Pois bem, o nosso pedinte utilizava este artifício para atingir a simpatia das pessoas a seu favor.
Sempre nas sextas-feiras o nosso personagem chegava até a porta do compadre Juquinha para tentar adquirir um esmolinha.
E com sua voz meio roca largava a Cantilena:
“ Devoto da venta chata // Perna de aribú cangueiro// Crista de peru baiano// Baiba de pai de chiqueiro”//, e estendia a mão toda suja a espera de algum trocado.
Compadre Juquinha foi aos poucos tomando um abuso sem igual daquela cantiga e daquele mendigo.
Depois de muitos meses ouvindo aquele despautério, resolveu ele causar um susto no abusado pedinte.
Mandou seu empregado Maneco ir até a mata que ficava próxima ao vilarejo, cortar um quiri (pau bastante forte e duro conhecido também como frei-jorge), escondeu atrás da porta e esperou o suplicante.
Não deu outra, lá pelas quatro e meia da tarde apareceu o sujeito que foi logo cantarolando a musiqueta:
“ Devoto da venta chata// perna de aribú cangueiro // Crista de peru baiano// Baiba de pai de chiqueiro//.
Nesse momento o compadre Juquinha pulou lá de dentro pra fora; caiu bem pertinho do suplicante e munido do porrete cantarolou a seguinte loa:
“Ofereço esse bendito// Ao senhor são Nicolau //Um velhinho como esse // Só merece é muito pau//; e foi logo cobrindo de porrada a insigne criatura que desabou numa louca corrida estrada a fora e nunca mais apareceu naquele lugar.