Inocência

Pedrinho e Paulinho eram irmãos.

Cresceram juntos, sempre juntos.

Pedrinho adorava perguntar e Paulinho era mais calado.

Pedrinho passava o dia incomodando com suas perguntas: porque o pássaro voa? Porque a água é transparente?

Sua mãe, muito religiosa, respeitava o ar perguntador do menino. Ela sempre ia levar flores para seu marido finado. E até nessas horas o menino não parava: Mãe, porque você põe flores aqui? - Ah, menino, é que um anjo passa de noite e leva para o papai. Ele fica feliz quando recebe um presente. - Mãe, o que é um anjo? - É um menino bonzinho assim como você! - E onde moram os anjos? - Eles vivem no céu junto com o papai - E quem não é bonzinho é o que? - Ah, nesse caso tem a polícia para prender! Igual o guarda da pracinha. - Mãe, ele tem um brinquedo igual o do papai. - Menino, aquilo não é brinquedo, aquilo ele usa quando alguém não quer fazer o que ele está mandando! - Do que o pai morreu, mãe? - Foi um acidente filho, ele estava andando na ponte, um carro desgovernado bateu nele o jogou ele no rio. Ele não sabia nadar e o mar o levou para o céu.

E assim, nem sempre entendendo, mas sempre perguntando, a vida seguia.

Uma vez mudou o carteiro da região e ele fez amizade com os meninos. E o carteiro sempre recebia uma bala de presente de uma senhora agradecida pelas cartas que trazia. Já que não era de comer balas, ele dava ao meninos.

Os dois então com a bala conversavam:

- De quem é? - É minha! Respondeu Paulinho - Mas e eu? - Você fica com a próxima!!- Tá bom... aceitou contrariado.

Na outra vez que o carteiro chegou eles foram correndo atrás da bala.

Mas Paulinho era mais velho e correu na frente. Pegando a bala logo disse: é minha!! - Mas você disse que dessa vez a bala ia ser minha!! resmungou triste – Mas eu sou mais velho! - Não está certo! E quando terei a minha? - A próxima é sua!

E na outra vez a mesma coisa aconteceu...

Vendo que Paulinho insistia em não cumprir sua promessa, Pedrinho lembrou que o brinquedo do papai servia para servia pra quando alguém não faz o que a gente diz pra fazer e foi buscar.

Paulinho viu e apavorou-se! - Larga isso que é perigoso! - Só depois que me der a bala! - Tá bom! Disse mais assustado ainda e jogou a bala para Pedrinho. O menino largou a arma para pegar a bala e caindo no chão disparou acertando Paulinho.

Pedrinho assustado com o barulho, vendo o irmão no chão, não entendeu o que acontecia foi correndo chamar a mãe! - Mãe, o Paulinho caiu! Mãe, o Paulinho caiu!

A mãe desesperada tenta salvar seu filho mas é tarde. - Menino, não era hora de ir para o céu! Volta meu filho.

Pedrinho chora junto. Não entende muito bem o que aconteceu.

No dia seguinte o carteiro fica sabendo da notícia e entristecido consola o menino e dá novamente uma bala de presente para a criança.

Pedrinho então sorri como quem tem uma idéia.

Ele sai correndo de casa feliz com a bala na mão gritando, Paulinho, Paulinho, calma que já te levo!! Lembrando a explicação da mãe, corre então para a ponte e pula para que a correnteza o leve pro céu virar anjo e levar o presente de seu irmão mais velho.