ELE & ELA

Acordou pensando na ex-mulher. Um pensamento insistente, que o acompanhou o dia inteiro...

À noite, depois trabalho, resolveu ligar para ela:

“Quem é?”, atendeu uma voz masculina.

Desligou o telefone. Podia ter discado errado o número...

Ligou de novo. E a mesma voz atendeu...

“Quero falar com a Dulce...”

“Olha só, a Dulce deu uma saída... Quem quer falar com ela?”

Não se intimidou:

“É o ex-marido dela...”

Silêncio brusco.

“Alô?”

“A Dulce acabou de chegar. Vou passar pra ela.”

“Edgar...?”

“Oi...”

Novo silêncio.

“Desculpe eu estar te ligando assim, Dulce...”

Criou coragem:

“Queria te convidar pra gente sair pra jantar...”

“Hoje?”

“Hoje, amanhã... Você que sabe!”

“Hoje, então.”

Surpreso com a imediata aceitação do convite – afinal, fora ele quem havia proposto a separação meses atrás, sem ressentimentos! –, Edgar perguntou aonde ela queria ir. No lugar de costume?

Dulce sorriu:

“Que tal no seu apartamento? Pode ser?”

Ele também sorriu:

“Acho que aqui o estoque de comida está meio em baixa...”

“A gente dá um jeito. Chego aí em duas horas! Beijos.”

Edgar abraçou o telefone, feliz da vida. Finalmente ia rever a mulher, depois de tanto tempo afastados... Como estaria ela? Não importava. Nem o sujeito que atendera o telefone importava. Só Dulce importava, nada mais!

Longe dali, igualmente feliz da vida, Dulce abraçou o amante. Há muito esperava aquela ligação... Quem Edgar pensava que era, para abandoná-la feito um trapo, uma coisa à-toa – e depois voltar assim, na maior cara-de-pau?

“Ponha a sua melhor roupa, Carlão! Sua arma tem bala?”

Hélio Sena
Enviado por Hélio Sena em 10/02/2011
Reeditado em 12/02/2011
Código do texto: T2782938