Acaso, Romance e Sorte

1.

Chove forte lá fora. Após a queda de um raio nas proximidades a energia acabou. Está escuro e não há ninguém aqui. Não muito tempo atrás, neste mesmo prédio de apartamentos, dois andares abaixo, aconteceu uma das coisas mais malucas da minha vida. Creio que na vida de outras cinco pessoas também. Pelas frestas da janela do meu quarto entram as luzes dos veículos, bruxuleantes, fantasmagóricas. Vejo vultos. Fantasmas. Eles querem que eu conte essa história.

Os apartamentos do prédio em questão, em sua maioria, possuem três quartos.

2.

Foi numa festa de bacanas da zona oeste que tudo começou. Na tal festa, qualquer tiro no escuro que fosse dado a recompensa era extrema: o lugar estava apinhado de mulheres maravilhosas. De verdadeiras beldades, deusas. Belezinhas, afrodites. Eram, em sua maioria, umas frescas de nariz empinado, metidas a intelectuais à procura do pote de ouro, bebendo cerveja com um guardanapo em volta das long necks e soprando fumaça azul de cigarros e baseados pro alto fazendo biquinhos encantadores. Eu e mais dois fulanos demos sorte. Conhecemos três amigas. Lindas, descoladas. Universitárias. Do interior. Os pais, talvez xerifes ou fazendeiros ou donos de alguma empresa de aviação, pagavam suas contas. Fiquei com uma branquinha de bundinha arrebitada, corpinho esguio, cabelos compridos com as pontas descoloridas e um sorriso meio amarelado por conta da nicotina, que estudava cinema. Dissertava sobre inúmeros filmes feitos na Estônia, Croácia, no Zimbábue, na puta que o pariu e eu fazia que "sim" com a cabeça concordando com tudo até que ela perguntava do nada "Já assistiu aquele filmado não sei aonde?" e aí eu respondia que "não" e ela começava a contar sobre o tal filme "filmado não sei aonde". Comecei a ficar com inveja dos outros dois caras que estavam com suas duas amigas. Um deles, um alemão com cara de modelo de cuecas boxer, já estava se atracando com a amiga ruiva das coxas grossas enquanto o outro, moreno, parecia se divertir com o papo da outra amiga, também morena e também das coxas grossas - com o adendo desta usar salto alto. Por fim, minha nova amiga cinéfila desistiu dos papos em que era mestre e que eu não tinha interesse e me encostou na parede. Luz piscando. Tontura. Fogos. Constelações. Aquilo não era um beijo comum. Não, não era. Sua língua, apesar dos cigarros e da cerveja, tinha um outro sabor. Algo almíscarado. Um toque de pecado. Qualquer coisa de maligno nas papilas gustativas. Feitiço.

Entramos, os seis, num carro do ano. Minha garota, Vanessa, foi dirigindo. Eu, ao seu lado. Os dois casais atrás, se pegando sem parar. Os rapazes sugeriram um motel. Risadinhas foram dadas. Ri também. Mas fomos pro apartamento delas, locado num bairro bacana da zona sul.

Uma decoração bacana. Moderna e retrô ao mesmo tempo. Modernizada com antiguidades. Um museu moderno. Quadros do Elvis Presley, paredes vermelhas, roxas, pretas. Cinzeiros bizarros, câmeras antiquíssimas na estante. Um mural com fotografias das três. Na praia, dentro de um avião, no meio do mato, na cachoeira, em botecos diversos. Numa ou noutra havia um carinha ou outro. Irmãos? Primos? Amantes? Maridos? Não dava pra saber. E quem queria saber?

Houve um frenesi até que todos conseguiram usar o banheiro. As anfitriãs acenderam dois cigarrinhos do capeta e todos fumamos e ficamos numa nice até umas horas. Depois, fomos pro quarto. Não transamos. Digo, eu e Vanessa. Estávamos bodeados demais pra transar. E ela estava menstruada. Madrugada adentro pude ouvir os gemidos oriundos dos quartos vizinhos. Dormimos de conchinha.

Acordei por volta das dez da manhã. Domingo. Não havia movimento no lugar. Todos treparam muito durante a noite e estavam mortos de cansaço. Eu, não. Fiquei durante um bom tempo olhando aquela belezinha ao meu lado, dormindo profundamente com um sorrisinho nos lábios. Que eu sabia daquela mina? Patricinha, maconheira, universitária... Até aí, tudo bem. Quase toda patricinha é maconheira. E quase toda universitária é maconheira. Ou não. Será que tinha namorado? Estava mesmo de Chico? Será que estranharia aquele estranho na sua cama ao abrir os olhos? Levantei tomando cuidado pra não acordá-la e fui até a porta do quarto na ponta dos pés. Estava só de samba canção e de pau duro. Assim que fechei a porta atrás de mim, com toda a vagarosidade do mundo, uma outra porta foi aberta no mesmo instante. Como o banheiro era imediatamente à direita do quarto da minha bela adormecida, dei duas passadas largas e me enfiei lá dentro. Uma beleza de banheiro: calcinhas penduradas, sabonetinhos com pentelhinhos, inúmeros pacotes de absorventes, dúzias de estojos de maquiagens e centenas de potes de shampoos, cremes, condicionadores, máscaras, blábláblá, blábláblá, essas coisas de mulher.

Por alguns segundos fiquei contemplando as calcinhas, tentando adivinhar qual que era de quem. Puxei uma preta, minúscula. Enrolei nos dedos. Desenrolei e abri a parada na altura dos meus olhos. Era realmente pequena. "Como elas conseguem usar esse troço enfiado no rabo?", me perguntei, ouvindo o eco de toda a torcida do Flamengo se perguntando a mesma coisa.

- Gostou da minha calcinha, amigo?

Senti o sangue fugir do meu rosto e gotas de suor brotando na testa. Instantaneamente extasiado pela visão das calcinhas penduradas assim que adentrei o banheiro, tive a infelicidade de esquecer de fechar a porta e lá estava Marília, a morena do salto alto, parada na porta, fazendo aquela pergunta. Fiquei quieto por alguns segundos procurando alguma explicação, mas minha mente parecia estar temporariamente lobotomizada pelo choque. Marília estava com uma lingerie preta, de alcinhas leves, que descia uns três dedos abaixo da bunda. Seus mamilos estavam apontados pra mim, eriçados pelo vento frio que entrava pela janela. Marília tinha a boceta cabeluda. Estava sem calcinha. De repente, ocorreu-me uma resposta que durante fração de segundo considerei ousada demais e na fração de segundo subseqüente já era tarde demais; a resposta fugiu dos meus lábios.

- Coloca essa merda pra eu te responder - e estendi o braço, segurando aquele pedacinho de pano preto entre o polegar e o indicador.

Marília bocejou, pegou a calcinha, abaixou um pouco, levantou o pé esquerdo e enfiou o treco ali e repetiu o processo com a perna direita. Foi subindo o paninho safado e endireitando as costas. Antes do processo ser finalizado, pude dar uma boa olhada naquele monte de pêlos. Marília fez mira na altura da minha cintura. Meu pau continuava duro. Ela ergueu a lingerie e deu duas voltinhas exibindo a bunda, olhando nos meus olhos. Tinha um belo rabo. Um baita de um rabo de negra.

- E aí, primo?

Peguei no meu pau, sem saber o que responder, pra variar um pouco.

- Nem pense nisso, primo! Gostou ou não gostou?

- Pra caralho!

Ela deu um risinho abafado, entrou de vez no banheiro, fechou a porta, passou por mim e mijou na minha frente. Eu nutria uma certa tara por mulheres sentadas em privadas. O formato do quadril, da bunda esparramada, visto de cima, me fazia um bem indescritível!

- E aí, primo, como foi a noite? - Disse Marília, dobrando um pedaço de papel higiênico e secando suas partes úmidas e sorrindo pra mim com malícia, com cumplicidade.

- Bacana, prima - respondi - conversamos um pouco e dormimos, nada de extraordinário.

- Eu sei.

- Sabe?

- Sei - Respondeu, um tanto ríspida, de repente - A Vanessa tá naqueles dias e ali ninguém chega perto.

- Compreensível - Redargüi, olhando seus mamilos eriçados.

- Mas olha, primo, cá entre nós - baixou o tom de voz prum quase sussurro e continuou - Essa filha da puta é uma ninfomaníaca da pior espécie.

- Ah, é?

- SE é! Ela não pára de trepar até ter sugado até a última gota de esperma do cara.

- Hum, entendi.

"Ótimo", pensei. Não feliz pelas possíveis e já inesquecíveis trepadas do porvir. Qualquer coisa no que ela falou me fez pensar num batalhão de homens comendo todos os buracos possíveis da Vanessa ao mesmo tempo e depois finalizando no clássico Gang Bang. Visão do inferno.

- Que cara é essa? Não gostou da novidade? Cê é viadinho ou o quê? - Provocou-me Marília, com sua pele morena, com seus bracinhos malhados, com seu cabelo estilo black power e com aquela cara de sono pós-coito.

- Eu posso te mostrar o viadinho, prima - E botei o pau pra fora e fiquei balançando. Achei uma atitude muito precipitada e babaca, mas eu não tinha nada a perder. Era uma conversa de louco, uma situação inusitada. Que se lascasse.

Mas Marília gostou do que viu. Ficou acompanhando os giros pênianos com os olhos de um cachorro que acompanha os giros daqueles suculentos frangos assados em portas de padarias porcas.

- Posso chupar?

- Opa!

- Mas não quero que você me toque - Falou num tom sério demais pra situação - Não vai encostar um dedo em mim?

- Mas eu...

- ... É pegar ou largar!

Ajoelhou e caiu de boca. Parecia que não via rola há meses, tamanha voracidade com que chupava o troço. Num só movimento, babei no dedo médio, inclinei o corpo e busquei sua xoxotinha cabeluda pra masturbá-la. Afastei a calcinha pro lado e vi estrelas e sufoquei um grito que por pouco não saiu.

- Eu falei pra você não encostar o dedo em mim, não falei, porra? - Falou tão colada no meu rosto, olhando nos meus olhos, que pude sentir aquele bafo de cacete.

Novamente, não consegui responder. Desta vez, por força maior. A filha da puta tinha dado uma mordida tão forte no meu pau que a coisa estava com aquelas marquinhas serrilhadas dos dentes. Os furinhos dos caninos estavam meio esverdeados. Doía. Doía pra caralho!

"Cada um tem o que merece", foi a frase que me veio na cabeça enquanto abria a porta do quarto da Vanessa devagar, e, na ponta dos pés, me dirigia até a cama. Deitei atrás dela e encaixei naquela conchinha quentinha, sentindo uma ardência misturada com um doloroso latejamento nos países baixos. "Doeu mais a frase clichê do que a mordida", pensei, antes de voltar a dormir.

(Continua)