Fênix.

Fênix.

Em olhos alheios posso enxergar a tensão acompanhada do temor pelas próximas horas.

No banco frio da sala de espera, era capaz de sentir o peso da dor de noventa e três anos, acumulados. Olhos violetas e quase cegos enxergavam a si próprios como um peso, e não viam a hora de poderem partir. E isso incitava em mim, um sentimento de raiva. Toda esta distância causada pelo maldito tempo só serve para concretizar minha lástima e minha dor, que já não é mais assim tão grande quanto a dor física da minha tia avó. Agora seu corpo leve e frágil repousa sob a maca, à espera do tomógrafo. Meus olhos castanhos anseivam desesperados pela vida. E espero, com todas as forças existentes no universo, que esse fosse o mesmo desejo de olhos tragicamente violetas. O coração pulsava velozmente, e meu corpo era capaz de sentir o sangue quente em minhas veias, como nunca antes. Eu me desequilibrei. Como se possível, caí da maldita cadeira de ferro e as palmas de minhas mãos logo colidiram com o chão. Meus olhos castanhos estavam embaçados e umedecidos, meu peito se desmanchava. O que habitava meu coração, era semelhante ao que senti alguns anos atrás, antes do meu pai ligar dizendo à minha mãe que minha avó partira. Eu estava prevendo uma vida que se encerrava antes dos cem anos. E principalmente para mim, era difícil de aceitar.

Sentada ao chão, no meio de uma sala de espera, aguardando o médico ou a enfermeira sair apressado pela porta que aumentava a distância, e dar a triste notícia. Por isso já me preparava. O óculos-de-sol já era inútil, pois lágrimas brotavam de meus olhos castanhos, e escorriam até a cintura. Eu estava morrendo internamente e aos poucos. Nós estávamos.

Com muito sufoco, corri até o banheiro mais próximo, e por lá permaneci durante alguns minutos, na inércia de olhos castanhos encharcados. Tirei o celular do bolso traseiro daquele short, que acabara de ganhar. Disquei o número umas treze vezes, por fim fui atendida. Porém não havia ninguém que pudesse estar lá por mim. Não naquele momento e nem naquele lugar, mas sim na minha vida. Foi o que me fez sentir melhor. Sem muito esforço, abri a porta rumo à sala de espera, onde com os olhos, o médico procurava confuso por algum familiar. Me aproximei, já prevendo o fim. Mas o que saiu de sua boca, foram as palavras que naquele momento, desejei ouvir a minha vida inteira.

- Ela está bem.

Então, naquele momento, percebi que os olhos tragicamente violetas desejavam o mesmo de olhos distantes e castanhos: ultrapassar cem anos.

Fiquei feliz.

Bárbara Ornellas
Enviado por Bárbara Ornellas em 08/02/2011
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