O RAIO ACABOU CAINDO!!!
O RAIO ACABOU CAINDO!!!
Na Vila do Acaba Mundo, toda a pequena comunidade conhecia o Zé Zico e por motivos variados, porque o homem era mesmo uma figura, misturava a bondade com a maldade; ele era prestativo, estava sempre pronto para fazer um favor, emprestar um dinheiro ou repartir um prato de comida.
Rico ele não era, mas vivia confortavelmente com a renda de seu bem cuidado sitio onde vivia sozinho; ele foi casado, mas a mulher desistiu dele por causa de suas blasfêmias e depois da partida da esposa, ele resolveu ficar só, porque se reconhecia uma pessoa de difícil trato, que ninguém suportaria.
Zé Zico se dizia ateu, que não acreditava nem em Deus e nem no diabo e as pessoas ficavam apavoradas com seu jeito de expressar suas opiniões sobre religião, mas de um modo ou de outro ele tinha amigos que achavam graça em seus destemperos verbais, mas quando ele começou a desafiar Deus, todos se afastaram.
Uma das piores manias de Zé Zico era clamar aos céus em termos assustadores, quando alguma coisa o aborrecia, ele se colocava no meio do terreiro do sitio e gritava: Aqui eu Deus, já que me odeia tanto, mande um raio cair na minha cabeça e acabe logo com essa mania de me perseguir, Deus não ouvia.
João Zico era músico da pequena Banda de Música da vila e com seu trombone na mão ele ficava calmo, mas em um domingo festivo, a bandinha tocava um dobrado acompanhando uma procissão, quando desabou uma tempestade repentina e Zé Zico levantou o trombone e gritou: joga um raio aqui ô Deus.
Ele não precisou pedir duas vezes, foi atendido na primeira, porque uma luz forte coriscou no céu e uma flecha de fogo entrou dentro do trombone e atingiu Zé Zico em cheio, ele caiu duro e preto, mas não morreu e o povo apavorado viu quando ele se levantou cambaleante e disse: perdão Senhor, perdão.
Desse dia em diante Zé Zico se tornou outra pessoa, nunca mais blasfemou, passou a assistir com devoção a missa dos domingos e dizia aos amigos que ele não acreditava em Deus, mas depois do recado que recebeu, passou a acreditar e completava: mas Ele não precisava exagerar, credo, quase me matou de susto.
O comportamento de Zé Zico mudou tanto para melhor, que Jandirinha voltou a viver com ele, tiveram dois filhos e viveram em paz por muitos anos ainda, sempre ensinando aos meninos que com Deus não se brinca, porque ele é Pai paciente, mas quando se zanga sabe castigar com dureza e Zé Zico era a prova disso.
Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}
Texto registrado no EDA