DE REPENTE...PARTEIRA

DE REPENTE ... PARTEIRA

Além de primas Marita e Cidalia eram as melhores amigas desse mundo, nasceram em casas vizinhas e cresceram juntas, porque o avô das duas era dono de um grande terreno, onde seus seis filhos foram construindo suas casas quando se casavam e foram ficando todos por ali com suas famílias, apesar das brigas.

Aquele tipo de arranjo era comum nas famílias possuidoras de terrenos e era bom para todos: os pais não perdiam contacto com os filhos e os filhos não pagavam aluguel pela ocupação do espaço, mas onde pessoas estranhas entram, geralmente a discórdia entra junto e era o que acontecia sempre.

Na família Santos, que era a família de Marita e Cidalia era essa a dificuldade, porque cada um dos filhos de seu Eugenio Santos se casou em uma família diferente e como eram todos homens trouxeram seis mulheres diferentes, criadas cada uma de um jeito; em pouco tempo, a paz se mudou e ficou a guerra.

As seis noras do velho Santos se odiavam, fofocavam e brigavam o tempo todo e o velho e sua esposa Dona Mercês tentavam pacificar aquele ambiente que devia ser familiar, mas pouco ou nada conseguiam e desistiram, deixaram o mundo com seu Deus; Marita e Cidalia mantinham sua amizade contra todos.

Quando chegaram a adolescência saiam juntas para passear e se divertir, mas enquanto Cidalia era calma e sensata, Marita era atrevida e metida a aventureira e quando fez dezoitos, começou a namorar o Francisco, mas seus pais não aceitaram o namoro e ela com a cumplicidade de Cidalia namorava escondido.

De repente Marita anoiteceu em casa, mas não amanheceu, foi um alvoroço quando sentiram sua falta, as mulheres da família choravam na maior gritaria e os homens saíram muito zangados a sua procura, mas sem nenhum resultado, porque a moça não foi encontrada em nenhum lugar das redondezas.

A procura por Marita se estendeu por algumas semanas e já cansados, resolveram desistir, mas Cidalia preocupada com a prima e amiga continuou a procura-la disfarçadamente; meses se passaram e Marita continuava desaparecida e Cidalia com a desculpa de cavalgar todas as manhãs, procurava sempre.

Um rio cortava aquelas terras, mas ninguém atravessava para a margem direita onde só tinha uma mata fechada, só a margem esquerda era colonizada e Marita cansada de procurar pela prima, resolveu atravessar o tal rio montada em seu cavalo que nadou até a margem direita, amarrou o animal em uma arvore e entrou na mata.

Andou poucos metros e ouviu gritos de dor, seguiu o som e encontrou Marita dentro de uma choça em trabalho de parto, apavorada não sabia o que fazer, mas pediu ajuda a Deus e conseguiu ajudar a criança nascer; passado o sufoco, Marita contou que fugiu assim que descobriu a gravidez e tinha vivido na mata.

Cidalia ajeitou a prima e a criança da melhor maneira que foi possível, voltou para casa onde contou o acontecido e pediu ajuda e felizmente a família mesmo muito zangada foi com ela socorrer a moça e a criança; tudo resolvido, Marita foi perdoada e aquela criança linda pacificou e uniu aquela agitada família.

A mãe de Cidalia não se conformava da filha ter sido parteira antes de ser parturiente, mas logo depois Cidalia se casou e começou a ter seus filhos para contentamento de sua antiquada mãe e com o passar dos anos tudo foi esquecido e aquelas crianças cresceram felizes, todos juntos no lote do velho avô e bisavô Santos.

Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 06/02/2011
Código do texto: T2775733
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