TEMPO DE GUERRA
TEMPO DE GUERRA
O povo brasileiro é um povo valente, mas é também amante da paz e por isso morando em um pais abençoado, onde existe fartura de frutas, carnes, laticínios, cereais, ovos e tudo o mais que compõe uma mesa farta, não está acostumado as privações impostas por uma guerra e nem também as guerras propriamente.
Por isso quando submarinos nazistas, atacaram pacíficos navio mercantes brasileiros, em nossas águas territoriais com destruição e mortes, esse povo amante da paz saiu as ruas exigindo do governo uma declaração de guerra a Alemanha de Hitler e os pracinhas partiram para a luta, mas ninguém pensou nos problemas
Uma guerra dá prejuízo para vencedores e vencidos e exige muito de todas as nações envolvidas no conflito, mas na tranqüila Vila de São João das Acácias, ninguém pensou que as dificuldades chegariam até lá; aquele lugar afastado dos grandes centros, só recebia noticias da guerra quando chegavam os jornais.
Os jornais vinham da capital do estado e chegavam com até três dias de atraso e a meia dúzia de rádios existentes no lugar, era privilegio dos cidadãos mais abastados, que lutavam para ouvir as noticias em meio a uma chiadeira terrível, de maneiras que ninguém esperava ter problemas por causa da guerra.
Estavam enganados, porque o trigo era importado e parou de chegar, em conseqüência o pão sumiu e no lugar dele entrou as tradicionais quitandas mineiras, como broas de fubá e o João Deitado de milho verde, ninguém reclamou, mas de repente desapareceu a gasolina e tudo bem, ninguém tinha carro.
Depois da gasolina foi o querosene que sumiu e ai complicou, porque a maioria das casas da periferia da vila e toda a zona rural dependia dele para abastecer suas lamparinas e lampiões ; as reclamações começaram e como o abastecimento de velas no comercio era mínimo, em dois dias se esgotou e ficou preto.
Antes mesmo do povo se conformar com a falta do querosene, veio a falta absoluta do açúcar e o desespero bateu forte, porque os estoques do comercio se acabou rapidamente e comer broa temperada com sal e no escuro era sofrimento demais e o que estava ruim conseguiu ficar péssimo sem o açúcar.
Era inverno e as crianças da vila adoeceram com gripe e precisavam de xaropes, mas com a falta do açúcar era impossível consegui-los e as mães estavam sem saber o que fazer, foi quando correu a noticia que o turco Habibe, estava escondendo na casa dele muitas sacas do precioso açúcar e só vendia no cambio negro.
A casa do comerciante Habibe, ficava em uma praça e uma turma de mães aflitas foi até lá e pediram ao turco que arranjasse um pouco de açúcar para suas crianças, mas ele se negou, dizendo: meu açúcar é pouco e vou vender para os fazendeiros que podem pagar caro, vocês não tem dinheiro, vão embora; elas saíram chorando
A noticia se espalhou, o povo se revoltou e resolveu atacar a casa de Habibe, esse ao ver o povo chegando se trancou apavorado em casa com sua família e o povão armado de marretas, começou a derrubar a porta da casa gritando ameaças, mas no meio da confusão apareceu o delegado Zurico, que era muito respeitado.
O delegado gritou: calma amigos, nada de violência contra o turco e a família dele, vocês querem açúcar e açúcar vão ter, mas com ordem e respeito, esperem que vou resolver isso, esmurrou a porta e disse: abra Habibe, o povo vai fazer uma fila e você vai vender todo seu açúcar a preço justo, dois quilos por pessoa.
O povo obedeceu ao delegado e formou uma fila, o turco abriu a porta e tremendo de medo, começou a pesar dois quilos do produto para cada pessoa pelo preço de mercado, até acabar todo seu estoque; no final o delegado Zurico disse ao comerciante: nunca mais tente fazer mercado negro aqui seu safado, ou pego você pessoalmente e arranco seu fígado.
Quando a guerra finalmente terminou, os pracinhas voltaram, a paz foi festejada com desfiles e bailes da vitória até mesmo na Vila de São João das Acácias; o povo voltou a ter trigo, querosene e açúcar a vontade e perdoou o mau comportamento do turco Habibe, afinal ele sempre vendia fiado nas horas de apuros, cobrando juros naturalmente.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA