Paradoxo do Alpinista
Um alpinista olha para o precipício, o dia ofusca a vista, o reflexo da luz no gelo é cegante e, no entanto, o abismo - macabra garganta tectônica – é escuro e estava à sombra da montanha. O perigo é enorme e nem um aventureiro experiente se arrisca sem hesitar.
- Se eu ficar aqui e não pular, morrerei; se eu pular e a corda não me suster, morrerei.
Olha melancólico para o relógio, que marca as duas da cintilante tarde. Pena algumas horas, refletindo, sem gozar da estadia, nem fruir do salto. Já sem comida ou bebida, a tês batida e sovada pelo Sol, os poderosos membros sem serventia, uma aparição vem lhe consolar das mágoas:
- Donde vem-te a confiança de permanecer tão imóvel?
- Da vontade de ficar vivo e do medo da queda.
- Porque pela razão sabes que há maneiras de a corda ser-te útil, pela coragem sentes que há formas de executar esses movimentos. Mas ainda assim, unindo razão e coragem, não te julgas capaz de escapar desta morte vil, que ora escolheste.
- Pois essa vontade e o medo não exigem esforço para serem constantes e não me abandonam em pleno vôo – nelas eu sei que posso confiar. Nunca pularei.
Atalha o explorador condenado à inanição. A voz se evola. Ele senta-se, satisfeito, sobre o palmo de chão que lhe resta. É o que possui. Bastará.