O enigma da arvore

O enigma da arvore

Quando ainda caminheiro errante por esse Brasil afora, fiz parada em uma cidadezinha a leste do estado de Goiás, geograficamente incrustada ao sul da Capital Federal. O sol estava a pino quando aportei na pequena rodoviária. Entrei num barzinho que ali existia e pedi por obsequio me servir uma xícara de café... Que por sinal estava frio e fraco. A movimentação de transeuntes era um tanto acanhado. Sentindo necessidade de um bom banho e abastecer meu “ judiado” estomago com uma alimentação digna, indaguei ao dono do estabelecimento onde poderia encontrar uma boa pensão que suprisse tais necessidades. Com muita presteza fui informado que duas esquinas abaixo eu encontraria a pensão da Dona Nicota. Alias era a única da cidade. A pensão era simples mas limpa e asseada. Dona Nicota era uma mulher muito simpática. Deveria ter mais de sessenta anos, mas estava sempre disposta e seu bom humor cativava seus poucos clientes. Na cozinha que ficava separada dos outros compartimentos da casa, a comida fora preparada em fogão de lenha. Dona Nicota contava com a ajuda de Ernestina-“tininha”. Tininha era uma moça de quase trinta anos, apesar de parecer ter menos de vinte,pois era franzina.Seus cabelos escuros sempre presos em tranças contrastava com sua pele alva e um tanto descorada que dava a impressão de que poderia desmaiar a qualquer momento. Mas era só impressão. A jovem era bastante esperta no trabalho e, ótima cozinheira .Não era de muita conversa. Morava com Dona Nicota desde os dez anos quando perdera a mãe que morrera de “pulmão fraco” e o pai sumiu pelo mundo. Era final dos anos sessenta. A Capital Federal estava iniciando seus primeiros anos de vida. Pessoas principalmente do Norte e Nordeste migraram de seus estados de origem para tentar a vida na construção da jovem Capital do país formando ali a “Candangolândia”. Dentre elas estava Bartolomeu, afeito a atender pelo epíteto de Bartô que não gostando daquele lugar resolvera fazer parada na pequena cidade. Sentindo-se em casa, Bartô arrumou emprego na pequena pensão e passou a viver por ali e tornando-se braço direito de Dona Nicota .Cearense de naturalidade Bartô era um nordestino trabalhador e bem humorado.Como era um homem viajado ele gostava de colecionar das pequenas cidades onde fazia parada historias relacionadas ao sobrenatural. Afinal as cidades interioranas sempre tem sua ‘Lenda Urbana”.Voltando a pequena cidade palco desta historia algo chamou minha atenção. A cidade tinha poucas ruas asfaltadas. E justamente a rua onde situava a pensão que eu estava, era ainda de terra, mas o mais intrigante era que bem em frente a pensão a rua era dividida ao meio por uma arvore de tronco grosso vários galhos e quase nenhuma folha dando-lhe um aspecto fantasmagórico. A estação era verão, a pequena cidade tinha um clima bastante agradável. Devido a sua altitude em relação ao nível do mar, ventava muito dando uma sensação térmica baixa. Ao cair da tarde as pessoas saem de dentro de suas casas e iam sentar-se em suas portas,tranqüilos vão batendo “um dedo de prosa”.A noite chega cobrindo a pequena e pacata cidade com seu manto negro e seus moradores aos poucos vão se recolhendo em seus lares. Na rua da pensão aproveitando os últimos clarão do dia que se despede, eu e Bartô sentados no boteco que ficava ao lado da pensão enquanto eu tomava uma “cachacinha” para abrir apetite Bartô soltava baforada de seu cigarro de palha.Olhei para a arvore e mais uma vez aquele aspecto de arvore morta alem de deixar-me intrigado também sentia uma agonia de sua existência inútil ali somente atrapalhando os poucos carros que por ali passava.Curioso perguntei ao Bartô o porque que não arrancava aquela arvore.Foi então que fiquei sabendo que no inicio quando ali era somente um arraial, poucas famílias ali residiam.Por ali moravam uma família considerada a mais abastada do pequeno arraial.O casal tinha uma única filha. Moça muito formosa que ate estudara numa grande cidade. Infelizmente apaixonara por um rapaz pobre mas trabalhador e de bom caráter.Não tinha muito estudo.O pai da moça homem orgulhoso e ciumento da filha não aceitando esse relacionamento fez de tudo para afastá-los mas não teve sucesso diante de um amor tão grande.Num dia fatídico o pobre rapaz apareceu enforcado naquela arvore.Segundo os contadores da historia foi morte encomendada pelo pai da moça.A tristeza tomou conta da alma da pobre jovem que não suportando a dor também ali se enforcou.Na carta deixada por ela,dizia que a partir daquele momento aquela arvore perderiam suas folhas e que quando ela se encontrasse com seu amado a arvore novamente teria sua majestosa copa de volta.Com o passar dos anos a historia foi passando de boca em boca e nem mesmo quando o arraial passou a ser cidade ninguém teve coragem de arrancá-la. Com uma boa gargalhada despedi de meu recente amigo.Aquela noite custei a dormir,coisa que não e de meu feitio pois alem de dormir bem não me impressiono com este tipo de historia. Acordei com um forte barulho de vento que batia na janela de madeira do quarto em que eu dormia abrindo-a . Acendi a fraca luz do meu quarto, olhei no relógio:meia noite e um minuto. Sonolento encaminhei para fechar a janela que ficava para o lado da rua de frente a arvore. Um ar gelado adentrava o pequeno quarto. Ao dar uma espiada na rua, um grito de espanto saiu de minha garganta acordando a todos. A arvore antes desfolhada agora exibia uma roupagem de folhas verdes que balançava suavemente e sob um luar prateado, pareciam bailar ao som do vento diante de nossos olhos estupefatos.

Júnia Marx
Enviado por Júnia Marx em 30/01/2011
Reeditado em 30/01/2011
Código do texto: T2761470
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