Olhos negros
-Seus olhos são tão escuros! Quase não dá pra ver a pupila – ele disse enquanto olhava de perto e com atenção para aqueles olhos bem na sua frente.
-É, eles são misteriosos. – ela disse, mais brincando do que falando a verdade.
Misteriosos. Era essa a palavra que faltava, o adjetivo que ele estava procurando. Tentava, mas não conseguia entender o porquê de aqueles olhos chamarem tanto a sua atenção.
Negros e marcados, perdiam-se em meio ao rosto pequeno e harmonioso. Mas ainda assim ele os achou. Ele tentou o que pode até desistir de enxergar alguma coisa através daqueles olhos. O preto criou uma barreira, e era impossível descobrir o que ela guardava por trás.
De vez em quando surgiam alguns alarmes falsos. Quando parecia que algo ia escapar por uma brecha qualquer de dia, a noite voltava e acabava com qualquer possibilidade.
Ele se acostumou com isso, com os olhos misteriosos e com a caixinha de surpresas que era a sua dona. Descobriu que os olhos negros enganam até sem querer, e que fingem se perder para se proteger.