NOTAS E PAUSAS
Acomodou seu instrumento com igual capricho como o fazia diariamente ao regressar das aulas, no final da tarde; exausta, mas com a satisfação de quem venceu mais uma etapa da sonhada caminhada, ciente de que ela será longa.
Um leque de opções se lhe oferecia para as próximas sessenta e duas horas; o desejo era explorar cada uma delas. A estenuante rotina dos cinco dias precedentes já se altera; a começar pela mudança dos trajes, que lembravam noviças reclusas, por itens do indumentário ditado pela moda jovem e moderna. Ruma para a Rua Augusta ao encontro dos amigos, que, de igual forma, ali elegeram sua ilha no árido deserto de estresses semanais.
Nesse oásis onde não faltam fontes de entretenimento e alegria todos os parâmetros são subvertidos. Além das vestes socialmente corretas, penteados conservadores, dietas balanceadas, vocabulários rebuscados, partituras eruditas, tudo parece estranho àquele grupo ora em recesso, ou, diria, em exílio voluntário dos princípios e práticas habituais.
Mas, dado que tudo o que nos parece bom se recusa a ser eterno, logo é domingo; o domingo finda à meia-noite. E, mais uma vez, Ela se pergunta: "Por que o período de tempo compreendido entre a tarde de sexta-feira e a manhã de segunda-feira insiste em ser curto?". Amanhece e é hora de empunhar novamente o afinado violino, empreender a caminhada matinal de volta ao conservatório e retornar às cotidianas práticas musicais.
A graça é que, assim, as sete notas trabalhadas nas familiares quatro cordas vão continuar produzindo inovadores sons, para fazer vibrar nos ouvidos de exigentes aficionados da boa arte sublimes frequências em futuros concertos, quando a glória chegar.
Então, no conforto de meu camarote, eu a aplaudirei e exclamarei: "Bravo!".