AVENIDA
Cinco e meia, fim de expediente no décimo primeiro andar do edifício Afonso 1º. O escritório estava pinhado de clientes naquele dia. Dr. Artêmio atendendo uma senhora, Luciene, Diana e Anabela em férias, Marçal com um casal, Jacirene, então, secretária servia café, atendia telefones, servia água registrava retornos nas agendas, fazia as petições, enfim estava trabalhando como uma louca. Deixava no subconsciente a estreita vontade de descer e se assentar num bar a beira do rio e beber algo parar e animar e esquentar do frio.
No entanto, a noite foi se firmando, as estrelas surgindo, as flores exigindo um cerimonial, enquanto a lua aos poucos se debruçava na janela do quintal. O silêncio foi vestindo as horas e com calma tudo foi se ajustado e tomando o seu lugar. Lá pelas vinte e uma horas terminara aquela sexta feira que não era treze, afinal tiveram bastante lucro, embora o cansaço fosse intenso.
Não obstante, os desafios do dia, Marçal, o mais perspicaz dos rapazes que ali trabalhavam taciturnamente, no descer das escadas, já que o elevador estava quebrado propôs rindo a toa que todos fossem fazer uma boquinha n restaurante Avenida. A principio Artêmio relutou e pelo andar do tempo Jacirene entrincheirou, mas o convincente Marçal enumerou os ganhos e todos concordaram em comemorar.
Lá chegando, como de costume, o garçom chega apresenta o cardápio, que foi ignorado por Marçal ao pedir de cara Chopp para todos e uma chapa mista. Não fazia nem vinte minutos que Jacirene estava lá e o seu telefone tocou informando – intimando, que a sua filha estava com febre.
Com mil desculpas a colega foi-se. Ficaram na mesa só os homens...
Transcorrendo o tempo, falaram de futebol, de viagens, de carros e mulheres, quando sem querer, no meio do jantar caiu uma colher do Marçal. E levantando a vista, sem intenção viu chegar um casal de homens e fazerem frente a eles dois.
A conversa seguia normalmente sobre o caso de dona Maria, que tinha uma boa questão, quando do de repente os dois homens de frente para eles trocaram caricias, se abraçaram e só não se beijaram porque na hora “H” o garçom, sempre o garçom, ainda que sem querer impediu os finalmentes.
Assustados os dois advogados chamaram imediatamente o garçom e perguntaram:
- Que diabo de restaurante é esse aqui?!...
Sem perder a pose o garçom, com a bandeja na mão esquerda, se agachou e no ouvido dos doutores respondeu: - DEMOCRATICO!
Sem entenderem muito bem tornaram a perguntar:
- Não estamos perguntando o nome do restaurante amigo, estamos querendo saber o gênero receptivo desse local.
O coitado do garçom mandou ver:
- senhores o nome do restaurante é avenida e os freqüentadores são todos, afinal o país é de todos.
Marçal sempre na vanguarda das coisas se levantou e disse:
- Amigo, me dê à conta. E falando baixinho no ouvido do garçom justificou a sua saída:
- não me leve a mal, também não é discriminação mas você já pensou alguém entrando aqui, que conhece a minha mulher ou a mulher do meu amigo. Ao ver esses dois se agarrando bem na nossa frente... O que irão dizer e nós?!...
Nesse ínterim Artêmio levantou e discretamente apontou para o acontecimento atrás do garçom. Quando Marçal e o garçom viram os homens estavam se beijando como se estivessem com muita saudade. Não obstante, o cansaço do dia a dia tal situação irritou Marçal e Artêmio, que saíram do restaurante às pressas.
Com a gorjeta na mão o garçom se dirigiu ao caixa, quando o gerente o interpelou:
- O que aconteceu com aqueles dois caras?...
O garçom respondeu: Ah! Chefe!...Eles não são democráticos!