TRAVESSURAS DO VOVÔ
TRAVESSURAS DO VOVÔ
O alegre Vovô Salustiano, sempre divertiu a família com suas historias as vezes reais e as vezes inventadas, ele tinha uma grande imaginação e quando naquela cidade de Várzea Formosa nada acontecia de diferente, ele inventava alguma coisa, só para animar e movimentar as pessoas, ele era muito criativo.
Durante seus melhores anos, quando já idoso ainda conservava a saúde física e mental, ele estava sempre pronto para uma festa, um passeio ou simplesmente ficar horas assentado em um bar com os amigos, contando seus causos e as vezes implicando com alguém ou alguma coisa, mas sempre de bom humor.
Pai de muitos filhos e avô de muitos netos, ele conseguia manter a harmonia dentro de sua casa, mas santo ele não era e adorava moças bonitas, mas com todo respeito e vez ou outra sem respeito nenhum, porque ele adorava se sentir jovem e provar que ainda era um homem viril e essa sua atitude irritava muito sua esposa.
O tempo passava e Salustiano não mudava, mas já com a idade bastante avançada ele começou a ter lapsos de memória e a dizer e fazer coisas fora do normal; os médicos consultados chegaram a conclusão que Vovô Salustiano estava senil e já estava meio fora do ar e nessa condição ele passou a aprontar todas.
Como não podia mais se cuidar, o velho e alegre Salustiano foi morar na casa de sua filha Alzira, ela era uma pessoa calma e bondosa e cuidava dele com carinho e muita atenção, porque ele parecia criança e adorava fugir de casa e sair perambulando sem rumo; em casa ele servia de divertimento com suas artes.
Era uma travessura em cima da outra, como quando ele se queixou de dores nos ossos e um de seus netos lhe deu uma garrafa cheia de arnica com cachaça para fazer massagens, ele agradeceu e começou a friccionar o remédio nas pernas e braços, mas Sua filha notou que a garrafa estava se esvaziando depressa demais.
Vigiou o velho e descobriu que ele estava bebendo a cachaça da arnica, falou com ele e recebeu a seguinte resposta: uai Alzira, a dor vem de dentro, tenho que molhar a dita cuja por fora e por dentro também, ela confiscou a beberagem e passou a cuidar das massagens pessoalmente para desgosto de Salustiano.
Mesmo durante a noite era preciso ter alguém vigiando o avô, porque ele se levantava e ia ao banheiro, mas errava a porta, entrava no guarda roupas das netas e fazia xixi, no dia seguinte as moças choravam ao ver suas roupas molhadas e mal-cheirosas; quanto mais o tempo passava, mais Vovô Salustiano aprontava.
Poucos dias antes de sua morte, ele fez sua maior proeza e aconteceu assim: Alzira era evangélica e recebia muitas visitas de seus irmãos de fé e certo dia ela estava na sala com dois pastores e alguns irmãos estudando a Bíblia e se esqueceu de mandar alguém vigiar o velho Salustiano para evitar algum confusão.
Quando um dos pastores lia um emocionante trecho das Sagradas Escrituras, Vovô Salustiano entrou na sala nu, com um lenço no pescoço, chapéu na cabeça, se apoiando em uma bengala e carregando um pinico na mão esquerda, se aproximou do pastor e perguntou: onde fica o banheiro dessa casa, meu irmão?
Todos os presentes ficaram sem saber o que fazer, Alzira roxa de vergonha começou a chorar, mas o pastor salvou o mau jeito, dizendo: venha irmão Salustiano, vou leva-lo ao banheiro e lá foram os dois abraçados rumo ao sanitário: o pastor de terno e gravata e o velho desfilando elegantemente sua nudez.
Terminado o incidente, Alzira tentou se desculpar com o pastor, mas foi interrompida por ele, que encerrou o assunto assim: não se desculpe irmã Alzira, o irmão Salustiano agora tem a inocência das crianças e se lembre que Jesus Cristo disse: Deixai vir a mim as criancinhas, delas será o reino dos céus e na verdade é para lá que o irmão irá e dois dias depois ele foi mesmo e deixou muitas saudades.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA