SAUDADE..MUITA SAUDADE- PARTE FINAL

continuação da parte II

Aos dezessete anos, ela conhecera aquele que seria seu marido. Nunca havia tido um namorado, apenas alguns paqueras, nada mais. E, foi com aquele moço que tinha a mesma idade dela, que começou a namorar e conhecer um pouco mais do que seria diversão, porque até então, ela não conhecia praticamente nada.

Seu pai era extremamente severo, na criação dela e de suas irmãs. As amizades eram poucas e mesmo assim, tudo era do jeito que o seu pai queria, ou seja, não tinha liberdade para nada. Namorar era para se casar. E assim, o namoro já começou sério.

E foi com ele que ela começara a sair um pouco de casa.

Ela nunca tinha ido nem a um cinema, e foi ele que a levou, e isso depois de muito tempo de namoro, porque o pai não deixava que ela saísse de carro.

Imagina! Isso na cabeça dele era um absurdo. Ele dizia sempre, que uma moça tinha que ter sempre o nome limpo, porque se sujasse nunca mais se limpava.

A diferença entre ela e namorado era visível. Ela já trabalhava desde criança e ele tinha uma vida mais tranqüila. Os pais dele tinham uma condição financeira melhor e ele não tinha responsabilidade como ela tinha, mas ela gostava dele. Ele era uma pessoa boa, apaixonado por ela e sempre carinhoso. Aquele carinho e atenção que ele lhe dava, para ela era tudo de bom, porque até então ela só conhecera trabalho e a estupidez do pai, assim foi que com ele ela descobrira muita coisa na vida.

Agora ela ali, parada com o olhar perdido, ela se perguntava onde ele estaria, onde foi que eles se perderam? Na verdade, bem lá no fundo, ela sabia o que os tinha afastado daquela forma.

Depois de anos de namoro, ela se formara na faculdade e eles se casaram. Eles estudavam juntos, mas, no segundo ano ele desistiu e ela prosseguiu, até se formar para então se casarem.

Foi uma cerimônia muito bonita. Muitos convidados, muita festa. Ela estava feliz.

Ele estava trabalhando em outro Estado, e lá eles foram viver, longe da família, longe de tudo e de todos. Era a primeira vez que ela saia de perto da mãe, de quem era muito apegada, mas encarou tudo da melhor maneira, porque ela estava casada e feliz.

O que não esperava é que aquela felicidade duraria tão pouco. Com a convivência do dia a dia, ela foi vendo as grandes diferenças entre os dois, ela era agitada, responsável, fazia tudo com o maior carinho e ele sempre acomodado, tranqüilo.

Ele tinha suas qualidades, era meticuloso e perfeccionista,tudo que fazia, fazia bem feito, mas tudo era ao tempo dele, ou seja, quando lhe convinha. Isso a irritava, a deixava triste, magoada e aos poucos mesmo sem perceber, ela começara a se sentir sozinha.

Falava, pedia, suplicava, mas de nada adiantava, ele não mudava, e assim ela foi morrendo cada dia mais num pouquinho. Sentia-se como uma flor delicada que estava murchando a cada dia que passava, até ficar completamente seca, sem vida.

Seus filhos eram tudo para ela, vivia por eles e, em nome daquele amor incondicional de mãe, ela passara a vida vivendo por eles e para eles, o que não fora nenhum sacrifício, tamanho era o amor que ela sentia por eles, mas à medida que eles cresciam, ela sentia-se cada dia mais só, mesmo com toda atenção que eles lhe davam. Eles eram sua vida. Era daquelas mães que pecam por excesso.

Mimava de todas as formas os seus pimpolhos. Para eles ela nunca estava doente. Retirava forças do fundo da alma, para que eles não vissem seu sofrimento, mas agora não tinha mais como esconder, eles sentiam a sua tristeza e isso lhes fazia muito mal, e com isso, ela sofria ainda mais, por não poder controlar aquele sentimento que a corroia por dentro.

Ela se esquecera de um detalhe muito simples, de que para ser feliz, não podia ficar sempre esperando que ele mudasse, e agora ela via isso claramente, como a luz da lua que começava a brilhar no céu.

Ela olhava a lua e sentia uma imensa tristeza por constatar que sua vida tinha passado e que talvez não houvesse mais tempo para que fosse novamente feliz um dia. Sentia o vento do cair da noite, roçando sua pele alva.

Abriu os braços, fechou os olhos e entregando-se a aquele momento só dela, respirou fundo e olhando para o céu, agradeceu a Deus por tudo, até mesmo por estar se sentindo a pessoa mais infeliz do mundo, porque ela acreditava que tudo na vida tinha um porque, e que Deus sempre tinha um propósito maior para todos.

Seu peito ainda ardia pela ansiedade que tanto a maltratava, as lágrimas brotaram de seus olhos como rios transbordantes e num soluço vindo da alma, ela tentava encontrar de volta aquela menina cheia de vida e alegria que ela fora um dia, mas agora ela tinha a certeza de onde eles tinham se perdido... Perderam-se no instante em que a admiração e o cuidado entre eles se acabaram. Entre lágrimas ela constatava aquilo que ela já sabia há muito tempo...

Que para amar, é preciso admirar, se encantar, se respeitar.

É preciso ter carinho, atenção, zelo, porque dizer eu te amo, é muito fácil, mas amar de verdade, no verdadeiro sentido da palavra, é outra história, e isso envolve desprendimento, doação e cumplicidade. E nada disso mais existia entre eles. Ela chegou à terrível conclusão de que não havia nem um item daqueles no relacionamento deles, não sobrara nada...

Ela sentia-se cansada de tudo, cansada de tanta espera de tantas promessas.

Sentou-se na beira da piscina e vagarosamente foi molhando as mãos na água que refletia a luz da lua, e assim, lentamente ela foi se acalmando.

Abriu os olhos, e ali na sua frente, toda elegante, vestida num lindo vestido florido, cabelo preso num rabo de cavalo, com um sorriso imenso e belo estava... A vida.

Sim. A vida estava ali...

Com os braços abertos esperando um abraço.

Ela, pasma diante de tão bela visão, correu e abraçando a vida com uma emoção incontida, prometera a ela mesma e a sua mais nova amiga, que a partir daquele momento, esqueceria a tristeza e voltaria novamente a sorrir, assim como lhe sorria a vida!!

Neusa Staut

14.01.2011

Neusa Staut
Enviado por Neusa Staut em 14/01/2011
Reeditado em 14/01/2011
Código do texto: T2729863
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