ERA CALUNIA...
ERA CALUNIA...
O povo de São Godofredo do Oeste, se julgava o mais católico do mundo e provava isso o tempo todo e de todas as maneiras: a igreja estava sempre cheia de fieis nas missas, novenas e em qualquer ocasião que merecesse culto e nenhum padre era melhor tratado que o padre Vicente, vigário daquela abençoada paróquia
As senhoras da pequena cidade se esmeravam em agrados para o vigário, levavam bolos, doces, frutas e as donas das fazendas que rodeavam o lugar, abasteciam o adorado padre, com frangos gordos, leitões, lingüiças e as melhores partes dos porcos ou bois abatidos para o consumo da casa grande e dos colonos.
Ser vigário em São Godofredo do Oeste, era um luxo, jamais se viu um povo tão dedicado a seu pároco, a única desvantagem era que os padres chegavam magrinhos e em pouco tempo estavam gordos e rosados de tanto comer bem e aquilo era a alegria dos paroquianos, que diziam: olha só como nosso padre está robusto e com boas cores, Benza Deus.
Mas na manhã de um domingo, quando o povo chegou na praça da igreja, para ir a missa, encontrou a jovem Hilda quase nua, com as mãos e pés amarrados, jogada em um banco da praça; foi um Deus nos acuda, desamarraram a moça, prestaram os primeiros socorros e quando ela se acalmou, contou o que tinha acontecido.
E a historia era horrorosa, porque a jovem acusava o padre Vicente, de ser o autor daquele ataque e ela contou assim: eu passava aqui na praça, vindo da casa de tia Lucia, devia ser quase dez horas e o padre me agarrou e arrastou para um canto escuro, onde me estuprou e me bateu muito, me amarrou e deixou nesse banco.
As opiniões se dividiram, alguns poucos ficaram ao lado do padre, mas a maioria acreditou na historia de Hilda e o tempo esquentou, porque os partidários da jovem se agruparam e carregando cartazes de protesto foram para a frente da Casa Paroquial, onde fizeram acalorados discursos e apedrejaram a casa.
O padre Vicente saiu na sacada da casa e tentou se defender, mas recebeu uma pedrada no rosto e foi levado para dentro da casa coberto de sangue, pelos seus amigos; a policia chegou e acabou com a arruaça, mas ninguém foi para casa e a confusão só aumentava e para garantir a vida do padre, a policia ficou atenta.
O bispo da diocese foi avisado e mandou retirar o padre da paróquia de São Godofredo do Oeste, mas quando padre Vicente entrava no carro para sair da tumultuada cidade, o povo cercou o carro e um dos mais exaltados atirou com um revolver, mas errou a cabeça do infeliz vigário por centímetros, foi ai que Hilda assustada confessou a suja verdade.
Ela contou que estava grávida do namorado, mas como ele era casado, resolveu com a ajuda dele fazer aquela encenação, acreditando que o povo não ia atacar o vigário por medo de castigos de Deus, mas ela não queria causar a morte de ninguém; a raiva do povão se concentrou na moça mentirosa.
Ela levou uma surra histórica, a casa de sua família foi toda quebrada e incendiada e ela e os seus saíram enxotados da cidade, para nunca mais voltar; até hoje o povo de São Godofredo do Oeste, faz penitencias para que Deus os perdoe pelos ataques ao caluniado vigário e tudo de ruim que acontece ao povo ou a cidade, é recebido como castigo, pela calunia e violência contra o Padre Vicente.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA