Presságio
Deitado de bruços com as palmas das mãos viradas pra cima, como quem espera um pingo de chuva, João esperava o seu sono ressurgir.
“Ligar pra você antes de dormir não tem sido uma boa idéia. O meu sono vai embora junto com as minhas últimas palavras. Boa noite!”
E assim vem mais uma madrugada acesa, com olhos vivos e secos. Sem falta, amanhecerá um novo dia. Mas, com certas faltas, não se pode descansar. E, como serpentes a rastejar, seus pensamentos voltam a lhe atormentar:
A pressa em ver-te
Faz meu peito palpitar
Mas não estás a me esperar
E a esta hora verdes outro
Que, a o teu corpo afagar,
Invade terra alheia
Que já tem até marca
Feita só para avisar
Que você já tem dono
Mas como posso me vingar,
Se me traíste em um sonho?
Só me resta esperar
Velando, assim, o teu sono.
A visão de sua amada com outro, fazia João despertar e viver sempre insone movido a cafeína. E ele passou, assim, a amaldiçoar o dia em que uma cigana lhe falou que os sonhos sempre dizem muito sobre o futuro. Não tirava da cabeça, então, a imagem de Ângela e Deodato e, cria ele, aquilo era um presságio.