DESEJO SEXUAL....

Alô? Onde você está? Pode falar? Estou no hospital, vou iniciar uma cirurgia dentro de 40 minutos e não posso demorar. Que tal ligar dentro de duas horas? Tudo isto de tempo? Sim. É uma cirurgia delicada e você sabe o quanto sou meticuloso nas minhas ações e responsabilidades. Ta boooom. Eta cara mais “cdf”. Nunca vi um cara tão careta assim. Deixa pra lá. O que é dele está guardado.

Distraiu-se olhando as vitrines, uma bolsa aqui, um lingerie ali, quem sabe aquela rasteirinha? Melhor um sorvete daqueles que é uma verdadeira bomba calórica, mas que compensa e depois a gente queima as calorias de diversas maneiras e ações.

Olhou no visor do celular. Já passavam das dezoito horas. Puxa como o tempo corre. Agora já passaram três horas e “aquele mala”, não ligou. Não vou ligar. Quem sabe o que estará acontecendo? Estava validando o ticket de estacionamento quando ouviu o celular tocar. Para variar foi uma caça ao tesouro. Encontrar um celular em uma bolsa de mulher é um tanto complicado, em especial se for daquelas com duas ou três divisões. Alô. Puxa, pensei que havia esquecido de retornar a ligação. E então como foi a cirurgia? Quem bom, parabéns. Então. Quero e preciso falar com você. Já está falando. Não. Quero pessoalmente. Mas... Não tem mais e nem menos. Tem que ser agora. Não venha me dizer que tem mais uma cirurgia. Ter não tenho, mas preciso visitar meus clientes, analisar a evolução e recuperação dos pacientes e isso leva tempo.

Que tal daqui duas horas? Ta brincando. Passei a tarde inteira no shopping e quando você chegar aqui já serão quase oito horas da noite. Deixa pra lá. Não precisa ligar.

Desligou, validou o ticket de estacionamento e foi para o apartamento. O marido a estas horas já estava em casa. Nossa o que aconteceu? Cheguei faz mais de uma hora e você não atendia o celular. Por onde andou? Fui ao shopping. Tomei um sorvetão. Comprei uma calcinha vermelha. Passei em um sexy shop e comprei um creme estimulador de clitóris. Umas camisinhas com sabor e um jogo de bolinhas coloridas. Tá bom ou quer mais? E então eu pergunto? E você já colou o champanhe para gelar? Já encheu a banheira de hidromassagem? Já preparou aquele palmito assado na telha, no forno?

Eu...? Pois é como sempre um atrapalhado. Só sabe lidar com Ipod, Ipad, Ifode, I não sei o que. Agora com estes tais de Tablets a coisa ficou mais danada ainda. Sabe de uma coisa, você é a realidade encarnada da geração Z. Faz quantos dias que nós não transamos? Qual foi a última pegada firme? É só computador, computador, e-mail, face não sei o que, tem um tal de twister ou algo assim e quando está em casa fica direto ligado nestas encrencas. Acho até que você faz sexo virtual e goza em branco, ou seja, não ejacula só sente uma sensação que vai da glande até o ânus. E tenho dito. Ou como diz aquele italiano desbotado da novela: Punto e basta. Eu diga mais: Você é um monte de bosta.

Fechou a porta o quarto. Estava realmente frustrada. Também com um marido daquele tipo, um verdadeiro alucinado pelos bits e bytes. Um verdadeiro nerd.

De que adiantara fantasiar? Desejar? Ficar imaginando que uma noite, uma tarde, uma madrugada ele a tomaria como mulher, puta, amante, namorada, professora, vizinha, amiga da mãe dele? Não tinha imaginação para nada. Não era o cara. Dinheiro? Não era problema. Em especial da parte dela. Filha única, mimada. O pai um figurão do governo federal, comprara uns vinte imóveis que sabia com antecedência que iram a leilão. Corrompia os diretores dos órgãos federais que iriam leiloá-los e pronto. Comprava-os em nome de laranjas, fazia uma escritura de compromisso de compra e venda, depois de umas três ou quatro vendas fictícias, passava-os para o nome da filha. Morreu. E de forma trágica e cômica. Fora comprar e de fato comprou uma fazenda no Pará. O sol inclemente. Um calor insuportável. Apeou do cavalo e resolveu sentar-se à sombra de uma castanheira com uns quarenta metros de altura. E então não sabia que nem macaco senta-se à sombra de uma castanheira. E deu-se a desgraça. Um ouriço despencou e bateu direto na cabeça do então figurão do governo federal. Morreu? Morreu do quê? De castanhada. Do quê? Deixa pra lá. Não entendeu. Morreu e pronto.

E a noite se bateu pra lá e pra cá. Ainda bem que dormiam em quartos separados. Era melhor por que o marido passava horas e hora em frente a telas e telas.

Bom dia. Não venha com desculpas. Isso mesmo. As onze e trinta no Hannover. No celular um torpedo: não venho para o jantar, vou participar de um encontro a respeito de um novo lançamento do Google Tv. Bjs. Agora sim. Fogo morro acima e água morro abaixo, ninguém segura. Era o marido nerd, trocando a mulher por T.I.

Banho demorado. Pele hidratada. Cabelo todo produzido, daquele tipo da Farrah Fawcett e aquele vestidinho jogado sobre o corpo. Sandália salto quinze e aquele perfume animal da Animale. Ele que se atrase para ver o que vai acontecer.

Nooosssa. Que é isto? Está a fim de fechar o mercado, se produzindo deste jeito?

Notou? Que bom. E então qual é o assunto que você tanto queria tratar comigo?

Não deu para adivinhar? Não deu para descobrir ainda? Pensou: Mais um Nerd na minha vida...

Você está lembrado quando fomos apresentados? Lógico, na festa em que comemorava o meu doutorado. Foi uma festa elegante, mulheres lindas e uma em especial, era você.

Pois é. Desde aquele dia, lá se vão três anos e eu não me esqueci de você. E cada encontro em ocasiões diversas eu me convenço mais que você é o meu homem.

O quêêê? Isto mesmo que você escutou. Não se faça de bobo. Você sempre soube que sou fissurada em você e que sempre o desejei como o homem perfeito para meus planos. Planos? Que planos? Você é uma mulher casada e pelo que sei você está grávida de dois meses. Sim. E daí? Como e daí? Espera até eu terminar. Eu simplesmente quero fazer sexo com você. Nada mais. Não quero compromisso sentimental, amoroso, moral e etc e etc e tal. Só quero você na cama, no carro, no sofá, na grama, no chão, no tapete, em cima da mesa, no elevador, na praia, na piscina, seja lá onde for eu quero você, para uma coisa só: sexo.

Vamos acertar a conversa. Você é casada. Está grávida. Não acha isto tudo uma loucura? Mas o que você quer que eu faça? Cada vez que estou fazendo sexo com o meu marido, raras por sinal, eu imagino que estou fazendo com você. Cada vez que ele me acaricia, eu imagino suas mãos e assim por diante. Olha isto nós chamamos de psicose. Ou ainda de traição matrimonial. Pode chamar do que quiser. Eu só quero você e pronto. Mas vamos analisar assim. Digamos que o meu marido sofresse de algum distúrbio e eu não pudesse engravidar. Então eu iria sózinha a uma clinica de reprodução humana assistida e seria inseminada com o esperma de um doador, que jamais iria conhecer. E então fico grávida. Chego para o meu marido e digo que estou grávida. Ele iria à loucura. Depois eu conto como fiquei grávida. E ele então se acalma e aceita. É uma traição ou não? Não entendi. O meu marido poderia entender que eu estivesse grávida de um outro homem, seria traição, por ele não ter participado das entrevistas, das consultas, dos exames, tomado ciência dos protocolos e etc e tal.

Mas como ele não participou seria traição.

Como o procedimento foi em uma clinica de reprodução humana assistida e eu não o avisei ele entendeu a principio que era traição. Não espera ai. Você está fazendo uma confusão dos diabos. Engravidar de uma forma ou outra é uma coisa. Trair o marido, para satisfazer um desejo carnal é outra. Temos que considerar, que os procedimentos em uma clinica, são pautados pela ética, por protocolos, pelo elevado grau de profissionalismo, seriedade, competência e qualidade e que buscam satisfazer o desejo de procriação. Portanto não se pode enquadrar este seu raciocínio, de que seu marido estaria considerando-a uma mulher adúltera.

Ah! Você tocou na palavra chave: desejo.

Pois bem. Estou grávida sim senhor. E tenho um desejo: você para meu parceiro sexual.

Não. Não você está brincando. É uma mulher linda, atraente, sexi, gostosa, sarada e elegante. Eu não posso ser seu parceiro sexual.

Mas você já o é no meu imaginário sexual. Apesar do meu marido ser um nerd, eu o estímulo, o procuro, o provoco. Ontem mesmo eu comprei uma calcinha vermelha, Entrei em um sexy shop e comprei um creme estimulador de clitóris. Umas camisinhas com sabor e um jogo de bolinhas coloridas. E nerd não estava nem ali. Então eu resolvi usar todos estes aparatos com você e para você. Não. Não mais uma vez, eu não vou participar desta loucura. Não vai? Então se prepare. Vou contar até cinco e depois vou fazer o maior escândalo que o Hannover já presenciou em toda a sua existência.

Um, dói, três... Pode parar. Eu aceito.

E lá se foram. Mas e na hora “H” eu falhar? Não lhe falei que sei estimular o meu marido que é um “punto e basta ou um monte de bosta? Com você vai ser mais do fácil, vai ser recompensador.

E então? Gostou?

Vamos repetir mais vezes. Uma só não chega? Já não se satisfez?

Satisfazer até que satisfez.

Mas sabe né, como é desejo de grávida.......

ROMÃO MIRANDA VIDAL
Enviado por ROMÃO MIRANDA VIDAL em 10/01/2011
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