O lusco fusco do viver...

“Mas é tão oculto, tão oculto! Mas é tão secreto, tão secreto!”

Essa exclamação me cercava e dizia a mim que nunca me poderia realizar. Sufocava meu viver. Tornava rarefeito meu meu raio de viver.

Fui viandante por tantas selvas diferentes que nem mais acreditava numa clareira para me espraiar.

A indiferença com que o mundo que me cercava se mostrava dava-me a pensar se mesmo era(?), ou, se na verdade, não era não...

Uma sensação que não se calava. Mas quando era procurada, questionada, se escondia. Cessava.

A cada amanhecer busquei a clareira dessa vida a que me lancei. Que criei. Era numa batalha constante aquela a que me entreguei sem mesmo saber de sua real existência.

Tanto assim, que quando buscava esse ar, acabava por me encerrar em uma labirinto de mim. E de aí em diante a vaguidão de meu espírito se perdia pelo oculto de si mesmo.

Quantas noites frias essa caçada me custou. Lágrimas reais se confundiam com a taquicardia de um coração que não se aquietava.

Em alguns passos dessa escuridão acabei por tropeçar pelos pedaços de mim que ficavam pelo caminho que eu mesmo criei.

Uma vida de Ariadne. Pois, como que num descuido, para cada vida que escrevia, havia uma borracha a destruí-la de mim. Existiu em mim, e deixou de existir imediatamente quando abri os olhos e deixei de sonhar.

Numa caçada atroz e sem fim, sentia-me consumir. Um medo de que o tempo estivesse a acabar e o encontro nunca a se realizar...

Ao pés do precipício, a criança que em todos nós tem morada acabou por me acometer. Aí tive medo da luz não se acender, medo da mãe não chegar, medo da mão não se estender, medo do escuro não acabar...

Assim, a buscar demais e não encontrar, acabei - talvez em outro descuido -, por entender o porquê de ser tão oculto, tão oculto e tão secerto, tão secreto...

Em verdade, aquilo que busquei estava tão “próximo” que não poderia mesmo visualizar.

Era a mim que estava a criar. Mas, se por acaso um dia o sol raiar, quiçá, um pouco de minha sombra venha me acompanhar. Aí sim, não mais irei chorar, e de mãos dadas a ela contarei de todos os dias secretos e ocultos que vivi.

Ela vai entender, pois se criava junto a mim. “Porque era ela, porque era eu...”

Bernardo Gomes Barbosa Nogueira
Enviado por Bernardo Gomes Barbosa Nogueira em 08/01/2011
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