Manda quem pode e obedece quem tem juízo ...
Numa cidade natal,
Numa cidade dessa capital nacional o então intendente ganhou para governador. E muitos foram os que ajudaram na campanha. Na posse do dia 1º dona Maria Domingas, que foi ferrenha na luta pelo governador, coitada, amanheceu adoentada, com dores nas costas e não pode ir. No entanto, a cerimônia tinha que prosseguir como foi de fato. E dona Maria Domingas ficou sabendo que num dos seus primeiros atos como gestor, o então governador nomeou muitas pessoas para os cargos de médico, professores, enfermeiros e outros em aberto.
Ela ficou sabendo, que o seu vizinho foi nomeado para o cargo de doutor, a lavadeira da esquina o Comandante presenteou com o cargo de enfermeira, o da mercearia lá da esquina teve a sua filha, premiada com o cargo de Diretora da Escola do bairro e assim ela foi se inteirando das informações e sabendo o que cada um que participou da campanha ganhou.
Uma semana se passou e a mulher estava agoniada, ficou sabendo pelos vizinhos ainda, que inúmeras obras foram iniciadas, concursos públicos e muitas outras ordens executadas...
Muita gente anunciada e até o pároco local se tornou bispo. Já havia até mendigo pedindo nas ruas, pois era tanta nomeação, que a cidade se preparava para o aumento nas compras.
Diziam até, que o nome da cidade era felicidade, não por dona Domingas, senhora da limpeza, que coitada tinha dado o couro na campanha e por sua enfermidade ainda não havia conseguido nada, mas pelas inúmeras nomeações e criações.
Após umas duas ou três semanas doente, talvez por força de vontade, ela recuperou os ânimos ainda num sábado.
Meio que impaciente ainda tinha que esperar o domingo e amanhecer segunda feira para ir ao palácio. Como certo, na segunda de manhã, cedo bateu na porta da casa rosada, como era conhecida a casa de despacho do senhor governador, mas ainda teve que esperar umas cinco horas até o senhor governador chegar. E quando aquele carro preto vinha vencendo a multidão, que se aglomerava ao redor saiu meio tropego do carro o velho governador, protegido por seus seguranças entrou as pressas para a sua sala e logo recebeu a notícia de que alí o esperava uma senhora impaciente. Cheio de compromissos não lembrava mais, o que era naturalmente compreensivo, vindo da memória de um político escolado.
Começou o dia despachando uma série de documentos e recebendo outros políticos, até que percebeu uma grande confusão e perguntou ao chefe de gabinete o que se passara. Subserviente o chefe o informou que se tratava de uma senhora do povo, que queria falar com ele, mas o governador se fechou em seus afazeres e mandou que o chefe do gabinete civil avisasse a senhor para ela voltar na semana seguinte. Atrevida e teimosa a velhinha não se conteve e disse ao chefe: - moço é o seguinte, me desgracei na campanha desse velho sem vergonha, após a sua vitória não pude vir logo, pois passei a semana todinha doente e hoje que pude vir aqui ele está me mandando voltar na semana que vem, aqui olha...
Num gesto característico dos Portugueses, a senhora categoricamente deu um banana e continuou dizendo aos berros:
- Só saio daqui quando ele me atender.
Incomodado o comandante, como gostava de ser chamado, ouviu e tornou a perguntar:
- Que fordunço é esse ai?...
O chefe de gabinete repetiu: - comandante é aquela senhora. Ela está dizendo que só sai daqui quando o senhor a atendê-la, visto que ela o ajudou na sua campanha.
O Comandante não queria ficar mal na foto de pronto a recebeu:
- Ah então é isso, deixe-a entrar.
A senhora esguia, mas muito braba se acalmou, e diante do comandante parecia um cordeiro.Conversaram horas a fio até que foi mencionada a questão da campanha e ela tratou de expor as suas pretensões:
- Ô Cumandante a filha do tabernero recebeu du senhor u cargu di Direitora,
O meu vizinho u cargu de dutor, a lavadeira virou cuidadora de duente, u padri é bispu e pra mim o que o senhor tem?...
- Mas olhe lá, não me venha com cargu de selvente, pois que não guento mais esfregalhar chão. Pur isso que a minha costa dói tanto. Hum o senhô num sabe!?...
Uma pausa, o comandante pensou e disse:
- Tudo bem, come é que é mesmo o seu nome.
A mulher já havia repetido umas dez vezes o seu nome.
- Dumingas!... Maria Dumingas
- Ah dona Domingas. Pois bem, Qual o cargo que a senhora quer?...
Sem titubear, com os olhos engrandecidos disse ela na bucha:
- prufessora!
O comandante chamou o chefe de gabinete e mandou nomear a dona Domingas como professora da escola do bairro. Satisfeitíssima a senhora seguiu o seu destino. Porém, na semana seguinte, o chefe de gabinete chega com o comandante desesperado:
- Comandante preciso lhe comunicar!
- Fale homem, o que é?
- Aquela senhora que o senhor nomeou como professora está dando o que falar. A Diretora da Escola está para ter um troço, de tanta raiva. Inclusive tive que escondê-la da imprensa.
- Ora por quê?
- O senhor nomeou-a como professor, mas ela não sabe ler nem escrever. E agora ao que eu faço, pois ela é uma velha barraqueira.
O comandante pensou, pensou e disse:
- Ora seu, nomeei tá nomeado. No caso dela o que pode se fazer?!... É aposentá-la.
- É isso, aposenta, aposenta imediatamente a mulher.