Um regalo

Por dias Don Inácio ficou atrás de um potro pelo rosilho pra enfrenar, charlou no pueblo que um potro rosilho manso ou chucro queria comprar, e pagava qualquer preço pelo animal.

Numa tropa vinda pras os campos do Joaquim comprada na banda oriental o único chileno puro era um rosilho salpicado de branco na garupa, que mandaram o recado por um guri da estância do meio, pra Don Inácio ir charlar com o patrão Joaquim, que tinha uns potros pra ajeitar pras bastos e também tinha um rosilho pra venda conforme sabia do pedido.

Don Inácio no outro dia saltou bem cedo, faceiro por saber do rosilho chileno, e que ia fazer um pingaço por encomenda do seu coração, pra regala uma estrela que se envadiava de cariños e suenos em flor.

Foi até a estância acertou umas domas da ultima tropa mansa e se veio com uma potrada por diante que o moreno Juca puxando a madrinha na frente e dom Inácio na culatra de tiro com o rosilho tocando os potros.

Não contou a morena, estrela madrugueira, pois regalo não se charla pra quem dá se faz surpresa.

Mandou dias depois o negro guasqueiro fazer uns preparos de lonca, prata e alpaca, bastos, estrivos de prata entalhada pelegos pretos conforme o gosto da morena que tinha seu cuero, e nas rédeas dê seu bocal corações ponteados por carinhos.

O rosilho era quebra, que na primeira encilha pateou os ferros, mas em luna buena nem se liga pra isso, enfrenou com tempo cuidando mais ainda da boca que pra num toque de dedo virar pras os dois lados e sentar na cola esbarrando.

Na teve pressa de enfrenar o rosilho, que antes manoteador agora bem manso pra o andar sereno de morena.

Cruzava o posto pela boca noite no tranco da zaina das encilhas no rumo do coração, o rosilho bueno quase pronto de boca, e aas encilhas prontas o negro entregou conforme o pedido, faltando uns dias pras os dias dos namorados, que Don Inácio experimento elas no rosilho já pronto, manso de lombo e boca como seu coração dando uma volta no potreiro pra não sujar.

Mas o destino inexato, as vezes tece diferente as cosas da vida. Muda como o vento talvez por culpa do vento que talvez um regalo bem arrumado mas não entregue.

Os olhos vagaram nas distâncias se perderam por entre encilhas já tão sovadas de lombos, e num chasque com pressas de uma resposta suprimida ficou a mirar o nada da porta do seu galpão de campo solito...

As encilhas, bem feitas de lonca e alpaca, ficaram encilhando o lombo do rosilho atado na frente do galpão no dia da entrega com um brilhante no bolso da bombacha nova.

Um chileno puro ali sem função! Ficou depois nas linhas e na letras ligeiras que charlavam de outros rumos pra iria receber talvez um pingo que fosse um pensamento que era do agrado dos teus olhos...

Don Inácio desencilhou com olhos mariados, assoviando uma coplinha antiga, as encilhas feitas com tempo e jeito foram encilhar cavale sem nunca ter sido usada de fato brilhando a prata do estribo entalhado.

Don Inácio soltou o rosilho pra o banhado aos mesmos olhos da mesma luna que viu ele ajeitando o rosilho pra seu carinho, que se perdeu num sorriso.

O rosilho recém enfrenado se aporreou pelo potreiro solito sem serviço as encilhas se perderam cambiadas na linha, Don Inácio mira do potrão do potreiro as vezes um pingo que num dia foi chucro, ficou manso e agora sai roncando pelo potreiro coiceando macega, que se perdeu no tempo um potro bueno que agora com tozo por aparar e lombo liso sem charlar assoviando a mesma coplinha no seu silêncio.

Ginete
Enviado por Ginete em 06/01/2011
Código do texto: T2712088
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