O Crime e a justiça imediata

Já era mais de seis e meia, quando a lua sairá, após a chuva discreta, que empoçou a água no centro da vila, formando um improvisado de lagoa bem ao lado da casa de dona Clarisse. Betinho, Higino e Guilherme vinham caminhando e conversando sobre brincarem de policia ladrão, quando ao pularem o pequeno córrego ouviram vindo de um escondido de mato, a beira do empoçado d’ água um coaxar sinistro.

Saltando eqüidistante, os três ficaram observando e ouvindo aquele cantor oculto.

Até que Guilherme quebrou o silêncio:

Hei é um sapo, vamos matá-lo?

Higino de pronto concordou,

Mas Betinho ponderou:

A vovó disse que devemos ter cuidado, pois os sapos jogam veneno em nossos olhos e são capazes de segarem a gente.

Guilherme desdenhou: Conversa fiada é só dar umas pauladas e adeus “tia Chica.” Mamãe diz que sapos são nojentos.

No entanto o menino Higino recuou: É só que a minha avó disse que os sapos protegem a natureza. E nessa discursão chegaram os outros meninos que iam participar da brincadeira. Paulinho Diabo, que era apresentado e por ser maior se achava dono da situação, ouviu a discussão e sem tomar conhecimento foi logo dando uma paulada no sapo, que sem defesa e nem muita prosa se estendeu morto a beira da meia lagoa.

Os meninos ficaram abismados, com a frieza do colega...

Por um segundo tudo ficou silêncio, todos se entre olharam como se a internalizar a ação, processando a atitude com valores, numa espécie de disputa entre o bem e o mal, a desaguar no posicionamento de cada garoto, sob o ímpeto de uma situação um pouco incontrolável. E naquele instante tomou corpo uma grande confusão; um empurra, empurra, uns nomes de baixo calão e uns safas não, não ficando só nas palavras, houve agressão, porém tudo isso foi em vão, pois que o sapo morrerá sem encantar a sua parceira, que fugia sorrateiramente por baixo da casa de dona Clarisse. Enquanto os meninos, para se acalmarem foram brincar, deixando o corpo do pobre sapo no mesmo lugar.

Lá pelas 8hs da noite, correndo com o seu armamento de brinquedo em mãos, Paulinho se escondendo de Guilherme caiu dentro do bueiro, ralou todo o joelho, quebrou a cabeça, ficou encharcado e com um fedor insuportável, além de ter perdido o seu revolver de brinquedo.

Para completar a maldição ainda levou uma surra danada do seu pai, mesmo sob os protestos de sua santa mãe.

Sem piedade, enfim o sapo estava vingado, pensava Betinho, Higino e Guilherme, quando foram também chamados pelos seus pais por causa do horário.