UAI...CADÊ O ANO NOVO?
UAI...CADÊ O ANO NOVO?
No Porto das Emas o povo era feliz e simples, ninguém sabe se eram felizes por serem simples ou se eram simples por serem felizes, mas de todo modo a paz e a alegria moravam lá; naquele finzinho de mundo, a vida corria mansamente, sem tropeços graves ou grandes problemas, era uma vidinha muito boa.
Naquele vilarejo quem não era parente era compadre e todos eram amigos, as vezes acontecia uma pequena discordância, mas nunca chegava a briga seria, porque brigar dá muito trabalho e trabalho todos tinham muito no cultivo das terras, no cuidado com o gado e os animais domésticos, era melhor ficar em paz.
A semana toda era aquela rotina, de manhãzinha saiam todos para as lavouras, os currais e para outros afazeres, ninguém ficava parado, porque para comer era preciso plantar e cuidar, as mulheres tinham jornada dupla, porque trabalhavam na lavoura e cuidavam dos afazeres de suas casas, mas eram felizes.
Os divertimentos eram poucos e raros, nos sábados deixavam suas roças e iam ao comercio comprar o pouco que não produziam e aos domingos assistiam uma missa na Capela da Virgem do Ramalhete, voltavam para suas casa, almoçavam, dormiam uma soneca e depois do jantar, voltavam a Praça da Capela.
Na Praça era onde tudo acontecia: os mais velhos jogavam truco assentados na grama, as senhoras fofocavam e trocavam receitas culinárias; os jovens se reuniam ao redor de Chico Violeiro e Bastião Sanfoneiro, para cantar músicas sertanejas, dançar alegres catiras e namorar com o maior respeito.
Nos finais de ano, todos comentavam sobre as bênçãos do Natal e as coisas novas que aconteceriam no Ano Novo, mas os anos passavam e nada de diferente acontecia ou mudava e Zé Leiteiro em sua simplicidade, esperava todos os anos pelas comentadas novidades que o Ano Novo ia trazer.
Quando chegou aos vinte anos, ele se cansou da interminável espera e foi falar com o senhor padre Antonio, chegou pediu a benção, beijou a mão do idoso padre, e disse: Sô Padre eu vim sabê do sinhô, cadê o Ano Novo uai, todo os ano o povo fala qui vai tê coisa nova e há mãe tira eu numa cedura danada do catre, ante do sor nascê pra eu vê o Ano Novo.
E continuou: mais nunca vi ele sô Padre, eu oio que oio e ta tudo iguar, num muda nada, o coitado do padre Antonio se segurou para não rir e explicou: Zé, meu filho o Ano Novo se chama assim, porque terminou um tempo de trezentos e sessenta e cinco dias e vai começar uma nova contagem de tempo, é só isso.
Entender as explicações do padre ele não entendeu, mas chegou a seguinte conclusão: o Ano até pode ser Novo, mas o mundo continua o mesmo e dali para a frente, quando sua mãe chamava naquela cedura danada, para ver o Ano Novo ele dizia: num levanto não há mãe, esse mundo já vi e Ano Novo num tem...
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA