CAFEZINHO DE SÁ NINA

CAFEZINHO DE SÁ NINA

Naquela pequena e alegre cidade de São João do Floresta, o povo era feliz, alegre e hospitaleiro, ninguém fechava as portas de suas casas, porque todos se conheciam e por isso a confiança ilimitada era coisa natural; toda a comunidade era amiga e as normas de respeito e amizade eram observadas por todos, era a paz.

O entra e sai nas casas uns dos outros, era coisa natural como respirar o ar puro que vinha da Serra do Catunda; se os moradores estivessem em casa, tudo bem e se não... amém, entravam do mesmo jeito emprestavam coisas e saiam na paz e depois avisavam sobre o empréstimo e oportunamente devolviam o favor

Eram todos lavradores, donos de terras ou bóias frias das fazendas que rodeavam a cidade; em tempos mais antigos as fazendas tinham colônias, onde os trabalhadores e suas famílias moravam em casinhas brancas de telhados e janelas pintadas e com meio alqueire de boa terra de cultura em volta, onde plantavam roças.

Eram roças de subsistência, onde cultivavam um pouco de arroz, feijão, milho, mandioca e legumes, também criavam galinhas, porcos, patos e perus e ainda recebiam uns poucos mil reis, que gastavam no que não produziam, mas esse bom tempo passou e com as novas leis trabalhistas, tudo mudou.

Os peões das fazendas se mudaram para a periferia da cidade e passaram a trabalhar por minguados salários, carregando suas marmitas e ganharam o apelido de bóias frias, mas com todas as mudanças ocorridas, o sistema de vida em São João da Floresta continuou o mesmo e o principal exemplo disso era a casa de Sá Nina.

Sá Nina era uma senhora idosa, muito apreciada e respeitada na comunidade, era seria e quase nunca ria, mas tinha um coração do tamanho do mundo, sempre ouvia e agradava a todos e em sua casa nunca ouve mudanças; ela morava em uma casa antiga de portais e portas pintadas de azul colonial e paredes brancas.

A diferença era que a porta tinha um furo na altura do trinco, por onde ela passou uma cordinha e era só puxar a cordinha e o trinco se abria e franqueava a entrada e lá na cozinha, o fogão a lenha sempre aceso com um taxo cheio de água quente, onde eram conservados em banho-maria vários bules cheios de café.

O povo da cidade se habituou a entrar, tomar o café de Sá Nina e sair, era como um

ritual, ninguém passava pela Rua de Baixo sem tomar aquele abençoado cafezinho, mas as quitandas ela guardava no antigo guarda comidas de porta de tela e só eram servidas para filhos, noras, genros, netos e pessoas especiais.

Sá Nina tinha uma cadeira de balanço, onde ela se assentava nas horas vagas e ficava ali em uma saleta perto da porta da entrada cochilando, as pessoas entravam e diziam: ei Sá Nina, tá boa? e ela sem abrir os olhos respondia: tô boa e ocê? O passante ia até a cozinha, tomava seu cafezinho e saia dizendo: brigado Sá Nina e ela respondia: de nada, vai com Deus.

Foram décadas de cafezinho e de bênçãos de Sá Nina e quando ela partiu para a ultima morada, toda a comunidade chorou sinceramente e até hoje tantos anos depois, o povo de São João da Floresta, ao passar pela Rua de Baixo e em frente a casa que foi dela, diz: hô falta que Sá Nina faz, quanta saudade..

Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 05/01/2011
Código do texto: T2711080
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