REISADO
REISADO
Seis de Janeiro vem chegando e em todas as localidades sul-mineiras, o povo se agita aguardando os festejos do Santos Reis Magos; desde tempos imemoriais que a tradição manda comemorar a chegada das primeiras visitas recebidas pelo Menino Jesus e o povo cumpre alegremente essa agradável determinação.
Os preparativos começam com um mês de antecipação, porque além de pensar na confecção das roupas para os foliões, é preciso ensaiar as músicas próprias para a ocasião, arranjar lugares de comida abundante para todos, pedir licença ao delegado para a realização do evento e decidir onde ele se encerrará.
Estou falando da tradicional Folia de Reis ou Reisado; com um nome ou outro, a alegria e beleza são sempre a mesma, porque essa festividade que veio de Portugal com os imigrantes portugueses, é apreciada por todos os brasileiros, notadamente os interioranos e na Vila de Dona Sinhá, a comunidade adorava.
Essa vila perdida nos grotões das Gerais, se tornava pequena para os visitantes que chegavam todos os anos, para participar da famosa Festa do Reisado; os filhos do lugar preparavam com capricho os grupos de Folias de Reis, as roupas dos marungos eram coloridas e cobertas de bordados de pedrarias e cetim.
As donas das pousadas caprichavam na típica culinária mineira e os músicos lustravam seus instrumentos e afinavam as vozes para sair tudo da melhor maneira possível; os marungos eram escolhidos entre os mais fortes rapazes da vila, porque dançar e saltar diante do grupo por uma semana seguida, exigia muita saúde e força
Todos os anos era sempre a mesma coisa, preparos feitos, visitantes chegando e a festa rolava solta e na paz, mas no ultimo ano do evento foi diferente, porque Santinha a filha do rico fazendeiro Nestor Paranhos, se encantou por um bonito rapaz chamado Lauro e o namoro ofendeu ao noivo da moça, o Alfredo Noronha.
Durante a semana toda, o povo da vila viveu em suspense esperando uma briga feia e até mesmo uma tragédia, por conta do tal namoro, mas a folia saia , a música tocava e o povo dançava correndo atrás e parecia que afinal não ia acontecer nada de errado, mas no ultimo dia dos festejos, a linda Santinha sumiu.
Sua falta foi sentida logo de manhã na fazenda e na vila ela não apareceu, seu pai aflito espalhou seus peões pela região para procura-la e ninguém a encontrou e a Folia seguia com sua música e sua alegria pelas ruas com o povo dançando atrás e todos notavam a bela dança de um dos marungos, que abria o alegre cortejo.
A meia noite era o encerramento da festa, com o recolhimento das Bandeiras dos Santos Reis Magos e os marungos formavam uma roda, as luzes se apagavam e ao se acenderem novamente, os marungos já sem as mascaras iniciavam a retirada do local, mas dos oito marungos restavam sete e o oitavo sumira.
Foi ai que o sumiço de Santinha se esclareceu: ela era o oitavo marungo, estava substituindo o belo Lauro que tinha ido espera-la fora da vila com dois bons cavalos e quando as luzes se apagaram ela foi encontra-lo e fugiram juntos; aproveitando a noite escura sumiram entre as montanhas para sempre.
Esse acontecimento acabou com o Reisado da Vila de Dona Sinhá, porque quem pagava pelos festejos era o fazendeiro Nestor Paranhos que desgostoso com o sumiço da filha, culpou a festa e nunca mais ajudou e o Alfredo Noronha, o noivo traído nunca se conformou com o mau jeito, não voltou a namorar e morreu velho e solteirão.
Maria Aparecida Felicori{Vó Fia}
Texto registrado no EDA