AUTOPERDAO

Sofrera alguns golpes na vida. Nenhum como aquele. Estava nocauteada, a contagem chegava ao final e não conseguira sequer abrir os olhos! Ouvia os murmúrios ao redor, alguns gritos, outros tantos disparates e nenhum movimento coordenado que lhe pudesse salvar da derrota... Sentia o ar abafado, os odores de suor, respirar próximos dos que estavam a sua volta uns para ajudar outros por pura curiosidade e ainda aqueles que esperava apenas a declaração de nocaute para comemorar mais uma vida na lona...

Ouvira uma voz familiar, ao longe, enviando todas as esperanças e mensagens positivas para que se levantasse, movesse pelo menos os olhos, encorajando à reação, à luta pela vida, pela alegria, pelo brilho com que sempre esteve presente enquanto sobre esse mundão de Deus! Aquela voz, tão serena e amorosa conectou com algo dentro de si e lágrimas começaram a minar de seus olhos e escorrendo-lhe pelas laterais dos olhos fez com que numa fração de segundos a contagem fosse suspensa.

O suspense dominou toda a platéia. O que viria a seguir? Conseguiria uma reação? Colocar-se-ia em pé novamente e continuaria na luta pela sobrevivência? Sabia que não apenas questão de sobrevivência era acima de tudo questão de amar-se e perdoar-se por completo.

Afinal, não fora seu erro, nem sua culpa. Não tinha culpa por acreditar nas pessoas e dar o melhor de si para os que puramente amara. Há próximos a si os que continuam verdadeiramente amando e cuidando e sendo sinceros consigo, sem invenções e artimanhas apenas lealdade e generosidade, encorajamento e muito carinho.

Num ímpeto levantou-se reunindo os resquícios de força restantes e lembrou que uma forma de gratidão para com estes que lhe encorajavam amorosamente era dar-se o autoperdão, pois que não errou em arriscar a felicidade.

Se esta não lhe veio naquele caminho, não fora por culpa sua. Outros caminhos sempre estão a se abrir diante de seus olhos e dentro de si está a semente que plantará e dela colherá a paz. Que ninguém lhe pode roubar.