E Abri os Olhos

Quanta gente em volta de mim. Choros e lamentos... que cheiro de flores. É um velório, mas de quem? Não, não pode ser, sou eu ali naquele caixão. Tão lívida, triste, mãos cruzadas sobre o peito. Estão me lacrando. Carregando meu corpo ate o carro fúnebre. Eu ouço musica. Ela vem de longe. Um cravo desce do céu, toca só. Para onde estão me levando? Como podem fazer isso, jogar terra sobre mim. Estou viva! Ninguém me vê, só um garoto logo adiante, sozinho. Ele olha para mim e baixa a cabeça. Triste também. O que será que aconteceu com o mundo, eu dormi e acordo assim... vou dormir novamente.

Esta tudo branco, crescendo. Sinto-me pequena. Esse fundo branco, cresce. Não consigo abrir os olhos. É um silencio ensurdecedor. Fleches diante de mim, repentinamente. Momentos distintos de minha vida. Abra os olhos! Não consigo. Abra os olhos! Agora sim. Onde estou? Por que não voltou ao normal? Ainda esta tudo confuso. Tenho que me acalmar. Onde esta todo mundo? Quero voltar para casa. Que desespero, não consigo me mover. Um grito! O fundo branco se rompe. Estou no meu quarto. Um suspiro! Finalmente estou em casa. Minha casa. Agora estou protegida, de volta a realidade, quero encontrar meus amores. Charlie? Meu cachorro que a muito havia sido abandonado, não por mim. Você voltou, que felicidade!

O fundo branco novamente. Não! Pessoas me olham com pena... e somem. Estou com medo! Que droga que me deram? A droga da morte. Estou morta! O fundo branco se mistura com demais variadas cores. Estou sendo sugada por um vértice de energia e luz. Estou em um cassino. Roletas, dados, cartas. É Deus jogando pôquer, fumando charutos e tomando wisky. Ri da minha cara num blackjack. Me chama e diz baixo em meu ouvido: Bem vinda a lisérgica morte. Aproveite a viagem, que a bad-trip vem só depois... a DMT da vida.

Ana Júlia Marcato
Enviado por Ana Júlia Marcato em 04/01/2011
Reeditado em 04/01/2011
Código do texto: T2707958