Datas

Outrora esquecido, se esqueceu agora. Era aniversário, não sabe de quem, não sabe do que. Foi pra casa temendo ser de alguém que vive por lá, entrou, sentou a mesa, trajado no terno mudo, se fez surdo pros barulhos no prato, parou! Respira e se pergunta: de quem será? De quem será? Será da velha sogra? Será da minha esposa? Rostos não me dizem nada, somente meu silêncio mostra o quão insensível sou.

- Está delicioso amor.

- Obrigado.

Só isso? Não grita? Não fala nada além dos agradecimentos pelos meus agradecimentos? Vou pro quarto, já é meia noite, passou, não é mais data de ninguém, me viro, ouço:

- Ah! Sua mãe ligou!

- E o que disse?

- Te desejou feliz aniversário.

Viro pro lado, cubro os ombros, fecho os olhos, esquecido fui não só por mim, agora vou dormir e sonhar.