Lamúrias de reveillon
Quando os olhos se tornam espelhos da alma e perdem-se no horizonte, esses espelhos refletem tudo de bom e ruim que uma mente pode imaginar. Tais olhos estão a chorar calados tentando unir as peças do quebra-cabeças da vida, embora alguns pedaços tenham se perdido no caminho.
Há imensa tristeza nesse momento e vontade de não mais existir. Mas o pior de tudo vem no dia seguinte, quando as memórias surgem tão nítidas que é possível tocá-las. Não é nostalgia, não é saudade do passado, é, sobretudo, um vazio que mais tarde se ocupa com o medo. Medo este que pode ser visto em outros olhos que temem a solidão e mais do que tudo, temem se entregar em vão. De uma enorme dedicação, do zelo e do cuidado vem, a inevitável, prestação de contas e as conseqüências de ter medo da ilusão.
Porém, aqueles olhos fixos no nada, a refletir a contraditória queima de fogos que viria para expressar alegria e esperança e a reluzir tão perfeitamente naqueles espelhos em forma de globos oculares, não pensam no que se foi. Eles apenas lamentam por não estarem fechados a descasar lado a lado àqueles outros tão tristes olhos.