Educação
Tento recobrar a memória, mas não consigo, exceto do meu apelido – fujão – e do nome da minha professora de reforço escolar – Profª. Carmélia – que precisei da ajuda da minha mãe para destravar do meu subconsciente. Essa foi a minha primeira fase como estudante primário.
Após a morte do meu pai tudo desandou. Tempo difícil aquele! Fome acalentada pelo saboroso “mingau de cachorro”, feito por minha mãe. Brincadeiras de criança vagando pelas ruas da nossa – éramos quatro irmãos – querida Madre de Deus.
Deus seja louvado e louvado seja o meu tio Roque, que compadecido nos acolheu aumentando o número de seus filhos para nove. De Madre de Deus para Jequié, daí para Itaquara. Estudos? Eram em casa à noite com a professora Jarda. De dia lata d’água na cabeça na ida, na volta feixe de lenha, que ao jogá-lo ao chão uma sensação mista de alívio e dor dominavam a cabeça e o pescoço sentindo o fervilhar do sangue quente nas veias diminuindo até permitir olhar para os lados, para cima e para baixo. Era o trajeto que fazíamos diariamente para a roça há uma légua da cidade.
O Movimento Brasileiro de Alfabetização - MOBRAL me encaminhou para o Ginásio. Conclui-o em 1977, aos 18 anos, quando muitos já estavam na Faculdade. Mas a sorte estava ao meu lado. Consegui um emprego de Office boy em um banco - aliás, cargo que ocupou um jovem de 22 anos (Amador Aguiar), no início de sua carreira bancária e que acabou sendo uma política para ascensão a cargos dentro daquela organização, que ele acabou sendo presidente. Foram 18 anos de aprendizado: cursos, palestras, congressos. Até na USP “estudei”! Acomodei-me. Achava que estava bom, porém “tudo é bom, enquanto dura”: fui demitido aos 37 anos de idade. Nova fase, nova vida, novos problemas.
Somente no ano de 2000, a “ficha caiu”. Precisava da conclusão do ensino fundamental para o curso de Corretor de Imóveis. O complexo e a vergonha eram entraves para enfrentar a sala de aula, mas “a ocasião é que faz o ladrão”. Criei coragem. Fiz Supletivo. Fiz o Curso Tecnológico de Corretor de Imóveis e de Corretor de Seguros. Tudo mudou.
O ânimo, o olhar, agora são outros. Aprendi, constatei o valor do conhecimento. Hoje, aos 51 anos de idade, sou graduando em Administração de Empresas e posso garantir que tudo mudou, está mudando e continuará em favor do meu eu e em favor de todos aqueles que de alguma forma eu possa contribuir, com palavras, incentivos, que os (re)conduzam aos assentos das cadeiras escolares .