E não descobriu o amor

Aflita, Catherine escrevia freneticamente em uma folha enquanto sua cabeça a bombardeava com milhares de coisas ao mesmo tempo. Não sabia para onde estava caminhando, não tinha um plano, isso a desesperava. Normalmente quando as coisas começavam a sair de seu controle ela tinha destreza suficiente para se recompor, se reinventar, mas desta vez era algo tão grande que até perdera sua meticulosa e costumeira capacidade de compreender o que se passava em seu interior.

Ele não havia percebido que as coisas estavam ficando estranhas entre eles, ao contrario dela não era perceptivo ou mesmo intuitivo, se nem ao menos conseguiria perceber algo errado em uma pessoa chorando desesperadamente a sua frente, tampouco poderia perceber o desconforto em uma mulher que não fazia questão de expor com extremismo seus sentimentos.

Ainda escrevendo, as palavras surgiam em sua mente mais rápido do que sua mão podia dar conta, e isso a deixava com raiva. Ela escrevia cartas, cartas que nunca entregaria. Poderia ligar para ele e dizer tudo o que estava pensando, diria em um tiro apenas, sem deixar espaço para uma réplica.

À janela o Sol caia levando mais uma tarde perdida. Pegou o telefone em suas mãos tentando lembrar o número, tarde de mais, a campainha havia tocado produzindo um som incômodo. Sentiu seu corpo amolecendo ao ponto de quase sucumbir ao chão. Foi atendê-la e abrindo com violência resolveu por seu plano em prática.

- Precisamos conversar, precisamos terminar com isso enquanto podemos, eu preciso terminar com isso enquanto posso. Não consigo ver as coisas saindo do meu controle desta maneira. Talvez você nem me ame do jeito que suas palavras dão a entender, mas o fato é que não consigo corresponder. Não posso esperar que uma coisa que não existe em mim passe a existir... Por que... Porque talvez isso nunca aconteça.

Falou de uma maneira tão rápida que parecia ser humanamente impossível. Ele olhava perplexo em seus olhos que começaram a lacrimejar até cair em um choro inocente. Se havia algo que ele amava nela, era sua incapacidade de mentir. Olhando em seus olhos tão verdes em meio às lágrimas, segurou suas mãos com cuidado e cortou seu discurso.

- Nunca pedi que me amasse, na verdade queria apenas poder amar você tanto quanto minha existência permitisse. Queria ser uma música que te fizesse dançar... Pela vida.

Naquele momento ele havia acabado com todos os planos que ela tinha de não escutar nada que ele pudesse dizer. Ela calou. Deveria ser irredutível, deveria ser forte. O que ela havia esquecido é que pessoas fortes são aquelas que, não tendo a capacidade de se ver em meio a algo cause incerteza, transformam sua fraqueza em arrogância.

- Não quero mais vê-lo

- Ok

Ele saiu calmamente e mesmo dolorido por dentro, não relutou. Não podia e nem deveria tentar mudar a mulher pela qual se apaixonara, caso contrario ela deixaria de ser a mulher que ele amava tanto. Ela chorou interminavelmente e apesar da sensação de alívio que sentiu, compartilhou também de um grande vazio. Não sabia ser de outra maneira, ela era daquele jeito e ponto. Irredutível, vacilou a cada momento de insegurança e recuando, não descobriu o amor.

Sah
Enviado por Sah em 29/12/2010
Código do texto: T2698970
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