A Primeira Ciência
Olhou em redor e o que viu não lhe agradou: animais em decomposição, esqueletos, uma mata densa e perigos por todos os lados. Não sabia definir seus sentimentos, apenas sentia. Grunhiu baixinho um som ininteligível e coçou a cabeça.
O dia estava claro – um Sol inclemente os abatia - e ameaçador. Animais de grande porte os rodeavam: mamutes, búfalos, etc... Os tigres de dente-de-sabre eram os mais perigosos: matavam depois de muito ferir sua presa.
Ele sentia-se impotente diante de todo este ambiente hostil. A única arma era a união com os seus; lutar em conjunto; trabalhar em equipe. Tinha sempre um pedaço de pau ou osso para se defender, mas eram fragílimos diante da ferocidade e força de certos animais.
O dia foi morrendo sem sobressaltos, apesar dos perigos, e a noite chegou mais aterradora que o dia, pois era durante o período noturno que os ataques aconteciam sem que eles o pressentisse...
Tudo estava calmo, estranhamente calmo... De repente, um barulho que não lhe era comum corta o silêncio: um estrondo e depois um brilho aparece em uma árvore. Ele quis tocar, mas sentiu na pele que doía e ardia. Olhou admirado, o espanto tomou conta do grupo que pulava e grunhia em conjunto, num misto de admiração e terror.
Eles não sabiam, mas um raio havia incendiado a árvore. Continuaram naquela letargia própria dos que ignoram e não observou que, sorrateiro, um tigre de dente-de-sabre esgueirava-se para perto do grupo. Um dos primatas sentiu muito perto o hálito quente e fétido, mas só teve tempo de gritar: fora estraçalhado pela fera. Os demais ensaiaram uma fuga, quando ele resolveu pegar um galho em chamas e, com a coragem de um herói, arrostar o animal. Ao ver que este recuava a cada investida, os outros primatas se armaram de coragem e de paus em chamas para expulsá-lo: estava descoberta a primeira ciência: o fogo.
(Danclads Lins de Andrade).