AS VOLTAS QUE A VIDA DÁ
Foi à padaria de costume, sentou-se numa mesa do lado de fora e pediu ao garçom sua cerveja preferida. Enquanto isso ascendeu um cigarro e enquanto observava os habituais clientes comprando os pães ainda quentinhos, se pôs a recordar da sua noite de trabalho.
Estava completamente abismada com o nível em que havia chegado.
Veio para São Paulo com uma trouxa de roupa na mão e o galo de briga nas costas. Estava com a faca nos dentes. Não se permitiria jamais abrir mão de seu maior sonho: Se tornar uma modelo de sucesso. Mas as dificuldades foram imensas e não teve outra escolha a não ser cair naquela vida promíscua. No entanto, os fatos que sucederam na noite passada, lhe empurraram definitivamente para o fundo do poço. Nunca imaginou que iria atender três clientes de uma só vez. Mas a proposta era irrecusável e se ela não os atendesse, poderia correr um sério risco de perder seu ganho pão.
Os três rapazes trabalhavam em uma obra próxima à boate e estavam há um bom tempo sem saber o que era sexo. Depois de estarem quase embriagados, escolheram ela, Sandra, a pedido do dono do estabelecimento. Na verdade, o dono queria que Sandra desistisse de trabalhar naquela casa, pois depois que um violento cliente fraturou seu joelho, ela nunca mais pode ir à academia treinar e devido a isso ganhou muito peso e desconfigurou sua silhueta. Além disso, seu abatimento era notável e seus clientes passaram a reclamar do seu desempenho e alguns passaram a evitá-la. Sandra sabia que tinha que reagir, mas não encontrava forças e o jeito era pedir encarecidamente para que o dono não lhe dispensasse.
Um dos rapazes logo de cara a amordaçou impedindo assim que ela pedisse socorro. Os outros dois a levaram para cama, a amarraram e começaram com a orgia seguida de agressões. Ao final, jogaram a quantia prometida em cima dela e saíram apressadamente. Ela ficou ali com seu choro sufocado pela mordaça, o corpo suado, cheio de sêmen e repleto de hematomas. Até que apareceu uma colega de trabalho e a ajudou.
Ainda na padaria, foi até a banca de jornal e comprou uma revista de fofocas. Voltou pra sua mesa, pediu outra cerveja e começou a folhar a revista invejando todas aquelas celebridades. Nem se deu conta das lágrimas que caiam sobre as páginas. O sonho para ela, definitivamente havia acabado. Ao retornar a página inicial, se deu conta do nome da equipe que produzia a revista e notou que uma das pessoas havia sido seu cliente. Ele era editor chefe e na época, por simpatizar com ela, quis de qualquer forma contratá-la com a intenção de tirá-la daquela vida.
Com as mãos trêmulas, pegou um cartão telefônico de dentro da sua bolsa e ligou no mesmo instante para André. O mesmo a atendeu com surpresa e alegria.
Quatro anos se passaram e ela enfim conseguiu estar ao lado das celebridades. Não como modelo, mas sim como redatora daquela mesma revista.